sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Demonstrando a Verdade do Cristianismo

"Um professor de teologia, que escreveu um livro novo sobre as demonstrações da verdade do cristianismo com a ajuda de tudo o que já tinha sido escrito antes, sentiria-se insultado se alguém não admitisse que agora tudo estava demonstrado; o próprio Cristo, porém, não diz nada além do que dizer que as demonstrações são capazes de levar alguém, não à fé (longe disso!), mas ao ponto onde a fé pode vir à existência, ao ponto onde são capazes de ajudar alguém a se tornar alerta, e com isso ajudá-lo a chegar a uma tensão dialética, de onde surge a fé: você vai crer ou você vai se escandalizar."

Fonte: "Prática em Cristianismo: A Exposição - B" (1850)

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Cuspiram em Jesus

"Quando eu era uma criança, eu fui ensinado que cuspiram em Jesus. Agora eu sou uma pobre e humilde pessoa, um pecador, então esse ensinamento vai descer mais facilmente. Esse, como você pode ver, é o silogismo cristão, e não o nonsense sacerdotal que diz: "seja bom, amigável e altruísta, e as pessoas te amarão - pois Cristo, que era amor, for amado pelos homens..."

Na eternidade, não há ninguém que será julgado tão severamente quanto esses sacerdotes profissionais. Eles são, do ponto de vista da eternidade, o que as prostitutas são na temporalidade."

Fonte: Diário de Kierkegaard (1848)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O homem espiritual e a multidão

"O homem espiritual difere de nós, homens, por ser capaz de suportar o isolamento, sua posição como homem espiritual é proporcional à sua força em suportar o isolamento, enquanto nós homens estamos constantemente em necessidade de 'outros', a multidão; nós morremos, ou nos desesperamos, se não somos reassegurados por estar no meio da multidão, por ter a mesma opinião que a multidão."

Fonte: Ataque à "Cristandade" (1854)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A Vingança

"Todo mundo se vinga nesse mundo. Minha vingança consiste em suportar meu sofrimento e minha agonia guardados profundamente dentro de mim, enquanto meu riso entretem a todos. Se eu vejo alguém sofrer, eu ofereço a ele minha simpatia, consolo-o da melhor forma que posso, e ouço a ele calmamente enquanto ele me assegura de que eu sou afortunado. Se eu apenas conseguir manter esse ritmo até o dia de morrer, eu terei tido minha vingança."

Fonte: Diários (1837)

sábado, 31 de outubro de 2009

Bem-aventurado aquele que sofre zombaria por uma boa causa

Imagine um ajuntamento de pessoas de mentalidade mundana e temerosa, cuja mais alta lei em tudo é uma importância escravizante pelo que os outros, "eles", dizem e julgam, cuja única preocupação é aquela preocupação não-crista de que "por toda parte eles falem bem" deles, cujo objetivo admirado é ser exatamente como os outros, cuja única inspiração e cuja única idéia aterrorizante é a maioria, a multidão, a aprovação dela - a desaprovação dela. Imagine tal reuniao ou multidão de cultuadores e devotos do medo do povo, ou seja, uma reunião dos honrados e estimados (por que tais pessoas não deveriam honrar e estimar umas às outras? Honrar os outros, afinal de contas, é bajular a si mesmo!) e imagine que esse agrupamento seja supostamente (sim, como acontece numa comédia), seja supostamente formada por cristãos. Diante desse agrupamento cristão um sermão é pregado com as seguintes palavras: 'bem-aventurado aquele que sofre zombaria por uma boa causa!'

Mas é bem-aventurado aquele que sofre zombaria por uma boa causa!

Fonte: Discursos Cristãos: "Mas é bem-aventurado aquele que sofre zombaria " (1848)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A aflição

"Então eles se assentaram em sua aflição silenciosa: eles não se endureceram contra a consolação do mundo; eles foram humildes o suficiente para reconhecer que a vida é um ditado obscuro, e da mesma forma que em pensamento eles foram rápidos em escutar para ver se poderia haver uma palavra explicatória, eles também foram lentos em falar e lentos em irar-se. Eles não presumiram desistir da palavra; eles apenas esperaram chegar a hora oportuna. Se ela viesse, então eles seriam salvos. Tal era a fé deles; e de fato pode ocorrer... Ou há somente um espírito que testifica no céu, mas nenhum espírito que testifica na terra?"
Fonte: "Two Upbuilding Discourses" (1843)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Festividades "cristãs"

O cristianismo dos sacerdotes, com a ajuda da religião (que, oras, é usada precisamente para trazer o oposto), é directionada para cimentar juntas as famílias de forma mais e mais egoísta, e para organizar festividades familiares, belas, esplêndidas festividades familiares, por exemplo os batismos infantis e confirmações, cujas festividades, comparadas por exemplo com excursões no Parque das Renas e outras diversões familiares, possuem um encantamento peculiar pelo fato de serem "também" religiosas. "Ai de vocês", diz Cristo aos 'advogados' (os interpretadores das Escrituras), "pois vocês roubaram a chave do conhecimento, vocês mesmos não entraram e atrapalharam aqueles que estavam entrando".

Fonte: Ataque à "Cristandade" (1854-55)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sobre o Clero Profissional

... Cristo nao apontou professores, mas seguidores. Se o Cristianismo... não é replicado na vida da pessoa que a expõe, então ele não expõe o Cristianismo, pois o Cristianismo é uma mensagem sobre a vida e só pode ser exposta ao ser realizada nas vidas dos homens.

Sobre a Apostasia

(Em resposta à pergunta retórica de Jesus em Lucas 18:8 "Quando o Filho do Homem retornar, seráque ele ainda encontrará fé sobre a terra?")

A apostasia do Cristianismo não vai vir abertamente com todo mundo renunciando o Cristianismo;não, ela virá de forma esperta, matreira e patife, com todo o mundo assumindo o nome de cristão, pensando que dessa forma todos estariam mais seguramente protegidos contra... o Cristianismo,o Cristianismo do Novo Testamento, do qual as pessoas têm medo; e portanto os sacerdotes industriais inventaram, sob o nome de Cristianismo, uma carne macia que tem um sabor delicioso,para o qual os homens entregam seu dinheiro com prazer.

Sobre as vestes eclesiásticas

A imagem mais descritiva de um sacerdote é essa: ele anda em vestes compridas, algo que Cristo, porém, não exatamente recomenda quando ele diz em Marcos e em Lucas (Mc 12:38; Lc 20:46): "Cuidado com aqueles que andam em vestes compridas."

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

"Crer" é crer no divino e no humano unidos em Cristo. Compreendê-Lo é compreender a vida Dele humanamente. Mas compreender a vida Dele humanamente está tão longe de ser algo mais do que simplesmente acreditar, ao ponto que signifca perdê-Lo caso não haja a fé adicional no divino-humano, pois Sua vida é o que é somente pela fé. Eu posso entender a mim mesmo por crer. Eu posso entender a mim mesmo por crer, apesar de que eu possa compreender adicionalmente, num relativo mal-entendido, o aspecto humano dessa vida: mas compreender a fé ou compreender Cristo, eu não posso. Ao contrário, eu posso entender que ser capaz de compreender a vida Dele em cada aspecto é o mal-entendido mais absoluto e mais blasfemo.

Fonte: "Dois Ensaios Ético-Religiosos: Um Ser Humano Tem o Direito de se Deixar ser Morto pela Verdade?" (1849)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Cristianismo acadêmico

"Também em nossos dias há um papo sobre isso, que o Cristianismo não deve ser exibido artificialmente, bombasticamente, mas sim de forma simples - e através da troca de idéias eles lutam por isso, eles escrevem livros sobre isso; e se torna um ramo acadêmico por si só, e talvez alguém até mesmo transforme tudo isso num modo de sustento e se torna um professor no assunto, omitindo ou esquecendo que a simplicidade real, a exposição realmente simples do que é essencialmente cristão é... praticá-lo."

Fonte: "Julgue por Si Mesmo!" (1851)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Castigo aos Sacerdortes

O castigo que eu poderia desejar aplicar aos sacerdotes seria: oferecer a cada um deles uma renda dez vezes maior do que eles têm agora... mas sem ter uma pessoa sequer na igreja. Mas naturalmente eu devo recear que nem o mundo e nem os sacerdotes entenderiam esse castigo, por mais ideal que fosse.

Se alguém - façamos um exercício mental -, se alguém fosse capaz de provar conclusivamente que Cristo nunca existiu, e também os apóstolos, que a coisa toda foi uma invenção; caso não houvesse, da parte do Estado e da congregação, qualquer sinal de eliminar os salários, eu gostaria de ver quantos sacerdotes abandonariam seus postos.

A máquina dos 1000 salários continua funcionando bem tranqüila. Isso é perfeitamente possível quando é uma questão do "espírito". O fato de que alguém nã tem um braço ou uma perna não passa desapercebido; mas o "espírito" pode perfeitamente bem ter desaparecido - e a máquina continua funcionando.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

"Fé é contrária ao entendimento; fé está do outro lado da morte. E quando você morrer, ou morrer para si mesmo, para o mundo, entao você também morreu para todo o imediatismo em si mesmo, e também para o seu entendimento. É quando toda a confiança em si mesmo ou no apoio humano é extinta, e também a confiança em Deus numa maneira imediatista, quando toda a probabilidade é extinta, quando tudo é como uma noite escura - é de fato a morte que estamos descrevendo -, entao o Espírito que dá vida vem e traz fé. Essa fé é mais forte que o mundo inteiro; ela tem o poder da eternidade; é o presente do Espírito vindo de Deus, é sua vitória sobre o mundo na qual você é mais que vencedor."

(retirado de "For Self-Examination: Recommended to the Present Age" - 1851)

O Caminho

No Novo Testamento o Salvador do mundo, nosso Senhor Jesus Cristo, representa a situação da seguinte forma: o caminho que leva à vida é estreito, a porta é apertada - poucos a encontram! - ... agora, ao contrário, para falar só da Dinamarca, todos nós somos cristãos, o caminho é o mais largo possível, o mais largo da Dinamarca, pois é o caminho no qual todos nós estamos andando, além de ser em todos os aspectos o mais conveniente e confortável possível; e a porta é tão espaçosa quanto possível, com certeza uma porta não pode ser tão espaçosa quanto aquela pela qual nós estamos andando en masse... por conseqüência, o Novo Testamento não é mais a verdade.

(retirado do jornal "O Instante")

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

dos "Diários de Kierkegaard"

"Ah, os pecados da paixão e do coração - quão mais próximos da salvação do que os pecados da razão!"

terça-feira, 10 de março de 2009

Dependência de Deus

A dependência de Deus é a única independência, porque Deus não tem gravidade; somente as coisas dessa terra, especialmente os tesouros terrenos, tem isso - portanto a pessoa que é completamente dependente Dele é leve.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Ame a Pessoa que Você Vê

Amar o outro a despeito das suas fraquezas e erros e imperfeições não é o perfeito amor. Não, amar é considerá-lo amável a despeito e junto com suas fraquezas e erros e imperfeições. Vamos entender um ao outro.

Suponha que havia dois artistas, e um disse: "Eu viajei muito e vi muito desse mundo, mas eu procurei em vão alguém digno de ser pintado. Eu não encontrei nenhuma face com tal perfeição de beleza que poderia fazer a minha cabeça para pintá-la. Em cada face eu vi uma ou outra falha. Portanto eu busco em vão." Isso indicaria que esse artista foi um grande artista? Em contraste, o segundo disse: "Bem, eu não pretendo ser um artista muito bom, ou sequer ser um artista; nem viajei muito. Mas ficando no pequeno círculo próximo a mim, eu não encontrei nenhuma face tão insignificante ou tão cheio de faltas que eu não pudesse mesmo assim discernir nela um lado mais bonito e descobrir algo glorioso. Portanto eu estou feliz com a arte que eu pratico, apesar de não alegar ser um artista." Isso não indicaria que precisamente esse foi o artista, aquele que por trazer um certo algo consigo encontrou, aqui e ali, aquilo que o artista muito viajado não encontrou em lugar nenhum no mundo, talvez porque ele não trazia consigo um certo algo? Não foi o segundo dentre os dois o artista real?

É uma inversão triste, geralmente comum demais, falar e falar sobre como o objeto do amor deveria ser antes que possa ser amado. A tarefa não é encontrar um objeto amável, mas considerar o objeto diante de si amável - seja dado ou escolhido - e ser capaz de continuar considerando esse objeto amável, não importa o quanto essa pessoa mude. Amar é amar a pessoa que se vê. Como o apóstolo João nos lembra: "Aquele que não ama seu irmão, a quem ele vê, não pode amar a Deus, a quem ele não vê." (1 Joao 4:20)

Considere como Cristo olhou para Pedro, uma vez que ele negou Jesus. Foi um olhar repelente, um olhar de rejeição? Não. Foi um olhar tal como o que uma mãe dá a sua criança quando a criança está em perigo devido à sua própria imprudência. Como ela não pode se aproximar e tomar a criança de perto do perigo, ela a desarma com um olhar reprovador mas salvador. Entao Pedro estava em perigo? Ah, nós não entendemos quão sério é para alguém trair seu amigo. Mas na paixão da raiva ou do ferimento o amigo ferido não consegue ver que o traidor é quem está em perigo. Ainda assim o Salvador viu claramente que era Pedro que estava em perigo, não ele, e que era Pedro que precisava se salvar. O Salvador do mundo não cometeu o erro de considerar sua causa como perdida porque Pedro não correu para salvá-lo. Em vez disso, ele viu Pedro como perdido caso ele não corresse para salvá-lo.

O amor de Cristo por Pedro era tão ilimitado que, ao amar Pedro, ele realizou o objetivo de amar a pessoa que se vê. Ele não disse: "Pedro, primeiro você precisa mudar e se tornar outro homem antes que eu possa te amar novamente." Não, ele disse simplesmente o oposto: "Pedro, você é Pedro, e eu te amo; amor, e mais nada, vai te ajudar a se tornar uma pessoa diferente." Cristo não terminou sua amizade com Pedro, e então a renovou quando Pedro se tornou um homem diferente. Não, ele preservou a amizade e dessa forma ajudou Pedro a se tornar um outro homem. Você pensa que Pedro seria ganho de volta, um dia, sem um amor tão fiel como esse?

Nós, gente tola, pensamos com freqüência que, quando uma pessoa mudou para pior, nós estamos livres de ter que amá-la. Que confusão de linguagem: estar livre de amar! Como se fosse uma questão de compulsão, um fardo do qual alguém quisesse se livrar! Se é assim que você vê a pessoa, então você realmente não a vê; você só vê indignidade, imperfeição, e admite assim que, quando você a ama, você não viu realmente a pessoa mas viu somente sua excelência e perfeições. O amor verdadeiro é uma questão de amar exatamente a pessoa que se vê. A ênfase não é em amar as perfeições, mas em amar a pessoa que se vê, não importa quais perfeições ou imperfeições aquela pessoa possa possuir.

Aquele que ama as perfeições que ele vê na pessoa não vê a pessoa, e portanto não ama verdadeiramente, pois tal pessoa cessa de amar assim que a perfeição cessa. Mas mesmo quando a mudança mais angustiante acontece, a pessoa não deixa de existir por causa disso. O amor não salta para o céu, pois ele vem do céu e junto com o céu. Ele desce e com isso realiza o objetivo de amar a mesma pessoa através de todas as suas mudanças, boas ou más, porque ele vê a mesma pessoa em todas essas mudanças. O amor humano sempre está voando em busca da perfeição do amado. O amor cristão, porém, ama a despeito das imperfeições e fraquezas. Em cada mudança o amor continua com ele, amando a pessoa que ele vê.

Ah, nós falamos de encontrar a pessoa perfeita para amá-la. O cristianismo nos ensina que a pessoa perfeita é aquela que ama sem limites a pessoa que ela vê. Nós humanos sempre olhamos para cima buscando o objeto perfeito, mas em Cristo o amor olha para baixo na terra e ama a pessoa que vê. Se então você deseja se tornar perfeito em amor, esforce-se para amar a pessoa que você vê, exatamente da forma que você a vê, com todas as suas imperfeições e fraquezas. Ame-a como você a vê, quando ela se torna extremamente mudada, quando ela não te ama mais, quando ela talvez tenha se afastado em indiferença ou para amar uma outra pessoa. Ame-a como você a vê quando ela te trai e te nega. Ame a pessoa que você vê e veja a pessoa que você ama.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Seguidores, não Admiradores

É um fato bem conhecido que Cristo consistentemente usou a expressão "seguidor". Ele nunca pediu admiradores, adoradores ou aderentes. Não, ele chama discípulos. Não são aderentes de um ensino mas sim seguidores de uma vida que Cristo está procurando.

Cristo entendia que ser um "discípulo" possuía a mais íntima e profunda harmonia com o que ele disse sobre si mesmo. Cristo alega ser o caminho e a verdade e a vida (Joao 14:6). Por esse motivo, ele nunca poderia estar satisfeto com aderentes que aceitavam seu ensino - especialmente com aqueles que em suas vidas ignoravam o ensino ou deixavam as coisas tomarem seu curso normal. Sua vida inteira na terra, do início ao fim, foi destinada somente a ter seguidores e tornar os admiradores algo impossível.

Cristo veio para o mundo com o propósito de salvá-lo, não de instrui-lo. Ao mesmo tempo - como é implicado pelo seu trabalho de salvação -, ele veio a ser o padrão, deixar pegadas para a pessoa que se juntaria a ele, que se tornaria um seguidor. É por isso que Cristo nasceu e viveu e morreu em humildade. É absolutamente impossível para qualquer um se desviar do Padrão com desculpas e evasão, argumentando que Ele, no final das contas, possuía vantages terrenas e mundanas que ele não tinha. Nesse sentido, admirar a Cristo é a invenção falsa de uma era posterior, ajudada pela presunção de uma "elevação". Não, não há absolutamente nada para se admirar em Jesus, a não ser que você queira admirar pobreza, miséria e desprezo.

Então qual é a diferença entre um admirador e um seguidor? Um seguidor é, ou se esforça para ser aquilo que ele admira. Um admirador, porém, mantém-se pessoalmente à distância. Ele falha em ver que aquilo que ele admira envolve uma afirmação sobre si, e portanto ele falha em ser ou esforçar-se para ser aquilo que ele admira.

Querer admirar em vez de seguir a Cristo não é necessariamente uma invenção de pessoas más. Não, é mais a invenção daqueles que, como um contorcionista, mantêm-se separados, que mantêm-se a uma distância segura. Admiradores se relacionam com o admirado somente através de excitação da imaginação. Para eles, ele é como um ator no palco, exceto pelo fato de que, sendo tudo isso a vida real, o efeito que ele produz é de certa forma mais forte. Mas da parte deles, os admiradores fazem as mesmas exigências que sao feitas no teatro: sentar-se com segurança e com calma. Admiradores estão apenas e então somente desejosos de servir a Cristo desde que o devido cuidado seja exercitado, para que ninguém pessoalmente venha a ter contato com o perigo. Dessa forma, eles recusam a aceitar que a vida de Cristo é uma exigência. Na verdade, eles se ofendem com ele. Seu caráter radical e bizarro ofende tanto a eles que, quando eles vêem Cristo honestamente como ele é, eles não são mais capazes de sentir a tranqüilidade que tanto buscam. Eles sabem muito bem que associar-se a ele muito de perto significa estar aberto a um exame. Mesmo quando ele "não diz nada" contra eles pessoalmente, eles sabem que a vida Dele implicitamente julga a deles.

E a vida de Cristo de fato torna de fato manifesta, terrivelmente manifesta, a horrível inverdade que é admirar a verdade em vez de segui-la. Quando não há perigo, quando há um silêncio mortal, quando tudo é favorável para o nosso cristianismo, é muito fácil confundir um admirador com um seguidor. E isso pode acontecer muito silenciosamente. O admirador pode viver na ilusão de que a posição que ele toma é a verdadeira, quando na verdade tudo o que ele está fazendo é jogar seguro. Dê consideração, portanto, ao chamado do discipulado!

Tendo algum conhecimento qualquer da natureza humana, quem pode duvidar que Judas foi um admirador de Cristo? E nós sabemos que Cristo, no início do seu trabalho, teve muitos admiradores. Judas foi precisamente um admirador, e portanto mais tarde se tornou um traidor. É tão fácil julgar as estrelas quanto julgar que aquele que somente admira a verdade vai se tornar um traidor, quando o perigo surgir. O admirador perde a razão com a falsa segurança da grandeza; mas se há qualquer inconveniência ou problema, ele pula fora. Admirar a verdade, em vez de segui-la, é um fogo tão suspeito quanto o fogo do amor erótico, que com uma virada de mão pode se tornar exatamente o oposto: ódio, ciúmes e vingança.

Existe a estória de um outro admirador - foi Nicodemos (Joao 3:1 em diante). A despeito do risco para sua reputação, Nicodemos foi somente um admirador; ele nunca se tornou um seguidor. É como se ele pudesse ter dito a Cristo: "se nós conseguirmos chegar a um compromisso, você e eu, então eu aceitarei seu ensino pela eternidade. Mas aqui nesse mundo não, eu não posso admitir. Você não poderia abrir uma exceção para mim? Não seria suficiente, de vez em quando, sendo um grande risco para mim, se eu viesse até você durante a noite, mas se durante o dia (sim, confesso, eu mesmo sinto quão humilhante é isso para mim, quão vergonhoso, de fato quão grande ofensa é para você) eu diga: "eu não te conheço"? Veja a teia de inverdade em que um admirador pode se emaranhar.

Nicodemos, estou bem certo, foi com certeza bem-intencionado. Eu também estou certo de que ele estava pronto para garantir e reafirmar, com as expressões, palavras e frases mais fortes, que ele aceitava a verdade do ensino de Cristo. Porém, não é verdade que quanto mais fortemente alguém faz afirmações, enquanto sua vida continua sem mudanças, mais ele está apenas fazendo se si mesmo um tolo? Se Cristo tivesse permitido uma edição mais barata de ser um seguidor - um admirador que jura por tudo o que é mais alto e sagrado que ele está convencido - então Nicodemos poderia muito bem ter sido aceito. Mas não foi!

Agora suponha que não haja mais nenhum perigo especial, como é sem dúvida o caso em tantos dos nossos países cristãos, ligados pela confissão pública de Cristo. Suponha que não haja mais a necessidade de andar pela noite. A diferença entre seguir e admirar - entre ser, ou pelo menos esforçar-se para ser - ainda existe. Esqueça esse perigo ligado a confessar Cristo e pense no perigo real que é ligado inevitavelmente com o fato de ser um cristão. O Caminho - o requisito de Cristo para morrer para o mundo, abandonar o que é mundano, e seu requisito de auto-negação - isso tudo não contém perigo suficiente? Se o mandamento de Cristo fosse para ser obedecido, eles não constituiriam um perigo? Eles não seriam suficientes para manifestar a diferença entre um admirador e um seguidor?

A diferença entre um admirador e um seguidor ainda continua, não importa onde você esteja. O admirador nunca faz sacrifícios verdadeiros. Ele sempre joga na segurança. Apesar de nunca mostrar exaustão em apontar com palavras, frases e canções o quanto ele aprecia Cristo, ele não renuncia nada, não abandona nada, não vai reconstruir sua vida, não vai ser aquilo que ele admira, e não vai deixar sua vida expressar aquilo que ele supostamente admira. Não é assim com o seguidor. Não, não! O seguidor aspira, com todas as suas forças, com toda a sua vontade, ser aquilo que ele admira. E então, notavelmente, mesmo vivendo no meio de um "povo cristão", o mesmo perigo resulta para ele como foi o caso na época em que era perigoso confessar Cristo abertamente. E por causa da vida de seguidor, tornar-se-á evidente quem são os admiradores, pois os admiradores vão se tornar agitados perto dele. Até mesmo o fato dessas palavras estarem presentes da forma que estão aqui perturbará muitos - mas aí eles devem da mesma forma fazer parte dos admiradores.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Respondendo à Dúvida

Você já esteve em dúvida? Eu tento imaginar se você já recebeu as marcas da imitação. Eu tento imaginar se você largou tudo para seguir a Cristo. Eu tento imaginar se sua vida tem sido marcada pela perseguição.

De fato, muitos duvidaram. E houve aqueles que se sentiram na obrigação de rejeitar suas dúvidas com razões. Mas essas razões saem pela culatra e estimulam uma dúvida que se torna cada vez mais forte. Por quê? Porque demonstrar a verdade do cristianismo não está nas razões mas na imitação: isso é o que se assemelha à verdade. Mesmo assim nós cristãos preferimos deixar de lado essa prova. A necessidade de "razões" já é um tipo de dúvida - a dúvida se alimenta de razões. Nós falhamos em notar que quanto mais alguém avança com razões, mas ele alimenta a dúvida e mais forte a dúvida se torna. Oferecer razões à dúvida para matá-la é simplesmente como oferecer a um monstro faminto a comida que ele mais gosta de forma a eliminá-lo.

Não, nós não devemos oferecer razões à dúvida - pelo menos não se nossa intenção é matá-la. Nós temos que fazer como Lutero fez, ordenar à dúvida que se cale, e para esse fim nós devemos nos manter calados.

Aqueles que vivem suas vidas imitando a Cristo não duvidam de tais coisas como a ressurreição de Cristo. E por que não? Porque suas vidas são tão extenuantes, tão gastas através de sofrimentos diários que eles são incapazes de se sentar ociosamente e manter a companhia de razões e dúvida, brincando de par ou ímpar. Em segundo lugar, a necessidade por si só apaga a dúvida. Quando é por uma boa causa que você é desprezado, perseguido, ridicularizado, vive em pobreza, então você vai perceber que não duvida da ressurreição de Cristo, porque você precisa dela.

Sem uma vida de imitação, de seguir a Cristo, é impossível ganhar domínio sobre as dúvidas. Nós não podemos parar de duvidar por meio de razões. Aqueles que tentam isso não aprenderam que é um esforço inútil. Eles não entendem que a imitação é a única força que, como uma força policial, pode dispersar a multidão de dúvidas, limpar a área e compeli-las a ir para casa e travar suas línguas.

Lembre-se que o Salvador do mundo não veio para trazer uma doutrina; ele nunca deu aulas. Ele não tentou, por meio de raciocínios, prevalecer sobre alguém para que aceitasse seu ensino, nem tentou autenticá-lo através de provas demonstráveis. Seu ensino foi sua vida, sua existência. Se alguém queria ser seu seguidor, ele dizia para aquela pessoa algo do tipo: "Aventure-se num ato decisivo; entao você pode começar, então você vai saber."

O que isso significa? Significa que ninguém se torna um seguidor por ouvir a respeito do cristianismo, por ler sobre ele, por pensar a respeito dele. Significa que, enquanto Cristo estava vivendo, ninguém se tornou um crente por vê-lo de vez em quando ou por ir e fitá-lo o dia inteiro. Não, um certo posicionamento é necessário - aventurar-se num ato decisivo. A prova não precede, mas segue; ela existe na vida e com a vida que segue Cristo. Uma vez que você se aventurou no ato decisivo, você está em conflito com a vida desse mundo. Você entra em colisão com ela, e por causa disso você vai ser trazido gradualmente a tal tensão que então você será capaz de ter certeza do que Cristo ensinou. Você vai começar a entender que você não pode resistir a esse mundo sem recorrer a Cristo. O que mais alguém pode esperar por seguir à verdade?

Isso é o que Cristo também diz, e essa é a única prova possível para a verdade do que ele representa: "Se alguém quer agir de acordo com o que eu digo, ele vai experimentar se eu estou falando por minha própria conta." Aventure-se a dar todas as suas posses para o pobre e você certamente experimentará a verdade dos ensinos de Cristo. Aventure-se uma vez a tornar-se completamente vulnerável em favor da verdade, e você certamente experimentará a verdade da palavra de Cristo. Você experimentará como ela sozinha pode salvá-lo de se desesperar e de sucumbir, pois você precisará de Cristo tanto para proteger-se contra os outros como para manter-se em pé quando a consciência da sua própria imperfeição poderia derrubá-lo.

Sim, a dúvida ainda virá, mesmo para aquele que segue Cristo. Mas a única pessoa que tem o direito de dar um passo adiante, mesmo com uma dúvida, é alguém cuja vida carrega as marcas da imitação, alguém que, através de um ato decisivo, pelo menos tenta ir tão longe que tornar-se um cristão ainda pode ser uma possibilidade. Todos os outros precisam prender suas línguas; eles não têm o direito de dizer uma palavra sobre o cristianismo, e muito menos contra.

A Estrada é o "Como"

Há uma metáfora geralmente aceita que compara a vida com uma estrada. Comparar a vida com uma estrada pode de fato ser frutífera de várias formas, mas nós precisamos considerar como a vida é diferente de uma estrada. Num sentido físico, a estrada é uma atualidade externa, não importando se alguém está andando nela ou não, não importando como o indivíduo viaja por ela - a estrada é a estrada. Mas no sentido espiritual, a estrada só vem a existir quando nós andamos por ela. Isto é, a estrada é a maneira como ela é andada.

Não seria razoável definir a estrada pela maneira como ela é caminhada. Se é o jovem que anda por ela com sua cabeça levantada ou o idoso decrépito que se arrasta com a cabeça baixa, se é a pessoa feliz que corre para alcançar seu alvo ou a pessoa amedrontada que se move furtiva e lentamente, se é o viajante pobre que vai a pé ou o rico na sua carruagem - a estrada, no sentido físico, é a mesma para todos. A estrada é e continua a mesma, a mesma estrada. Mas não a estrada da virtude. Nós não podemos apontar para a estrada da virtude e dizer: aquele é o caminho da virtude. Nós somente podemos mostrar a maneira como a estrada da virtude é caminhada, e se alguém se recusa a caminhar daquela forma, ele está andando por outra estrada.

A desigualdade na metáfora se mostra mais claramente quando a discussão é simultaneamente uma discussão sobre uma estrada física e uma estrada no sentido espiritual. Por exemplo, quando nós lemos no Evangelho sobre o bom samaritano, há a menção de uma estrada entre Jericó e Jerusalém. A estória conta de cinco pessoas que andaram "pela mesma estrada". Espiritualmente falando, porém, cada um andou pela sua própria estrada. Eis que a estrada não faz diferença; é o espiritual que faz a diferença e distingue a estrada. Vamos considerar com mais cuidado como é tudo isso.

O primeiro homem era um viajante pacífico que andava pela estrada de Jericó para Jerusalém por uma estrada legal. O segundo homem era um ladrão que "andava pela mesma estrada" - porém numa estrada ilegal. Entao um sacerdote veio "pela mesma estrada"; ele viu o pobre infeliz que foi assaltado pelo ladrão. Talvez ele tenha se comovido momentaneamente mas continuou em frente. Ele seguiu a estrada da indiferença. A seguir veio um levita "pela mesma estrada". Ele viu o pobre infeliz; ele também passou direto, sem qualquer comoção, continuando na sua estrada. O levita andou "pela mesma estrada" mas estava andando no seu caminho, o caminho do egoísmo e da indiferença. Enfim veio um samaritano "pelo mesmo caminho". Ele encontrou o pobre infeliz na estrada da misericórdia. Ele mostrou, através do seu exemplo, como andar na estrada da misericórdia; ele demonstrou que a estrada, espiritualmente falando, é precisamente isso: a maneira como a pessoa anda. É por isso que o Evangelho diz: "Vá e faça o mesmo." Sim, há cinco viajantes que andaram "pela mesma estrada", e mesmo assim cada um andou pelo seu próprio caminho.

A questão sobre "como uma pessoa anda pelo caminho da vida" faz toda a diferença. Em outras palavras, quando a vida é comparada a uma estrada, a metáfora simplesmente expressa o universal, aquilo que todo mundo que está vivo tem em comum por estar vivo. Nesse sentido, todos nós estamos andando pela estrada da vida e todos nós andamos pela mesma estrada. Mas quando a vida se torna uma questão acerca da verdade, a questão se torna: como devemos andar de forma a andar o caminho correto na estrada da vida? O viajante que em verdade caminha pela estrada da vida não pergunta "onde é a estrada?", mas pergunta como alguém deve andar pela estrada. Mesmo assim, como a impaciência não se importa em ser enganada, ela somente pergunta onde é a estrada, como se isso decidisse tudo da mesma forma que quando o viajante finalmente encontrou a estrada. A sabedoria mundana é muito desejosa de enganar, respondendo corretamente à pergunta "onde é a estrada?", enquanto a verdadeira tarefa da vida é omitida, que a estrada, entendida espiritualmente, é a maneira como se caminha.

A sagacidade mundana ensina que a estrada passa por Gerizim, ou por Moriá, ou que vai através de uma ou outra ciência, ou que a estrada são certas doutrinas, ou certos comportamentos. Mas tudo isso é um engano, pois a estrada é a maneira como se anda. É de fato como as Escrituras dizem: duas pessoas podem estar dormindo na mesma cama - uma é salva, a outra está perdida. Duas pessoas podem subir à mesma casa de adoração - uma vai para casa salva, a outra está perdida. Duas pessoas podem recitar o mesmo credo - uma pode ser salva, a outra está perdida. Como isso pode acontecer, exceto pelo fato de que, espiritualmente falando, é um engano saber onde a estrada está, pois a estrada é a maneira como se anda?

domingo, 1 de fevereiro de 2009

A Distância de Deus

Quanto mais o fenômeno ou a aparência expressam que Deus não poderia estar ali, mais próximo Ele está. Assim foi com Cristo... Quando a aparência expressava que os homens até mesmo negavam que ele era um homem ("Veja, eis o homem!"), naquele momento a realidade de Deus era o mais próximo que já houve... A lei para a distância de Deus (e essa é a história do Cristianismo) é, portanto, que tudo o que reforça a aparência torna Deus distante. No tempo em que não havia igrejas, mas apenas um punhado de cristãos reunidos como refugiados e pessoas perseguidas nas catacumbas, Deus estava mais próximo da realidade. Então vieram as igrejas, tantas igrejas, igrejas tão grandes e esplêndidas - e na mesma intensidade Deus se faz distante.

O Insulto do "Oficial"

"Nada, nada, nada, nenhum erro, nenhum crime é tão absolutamente repugnante para Deus quanto tudo o que é oficial - e por quê? Porque o oficial é muito impessoal, e portanto o insulto mais profundo que pode ser oferecido à personalidade."

Aos que querem aproveitar a vida

"Escute o grito de uma mulher durante o trabalho de parto; olhe para a agonia de um morimbundo na sua última extremidade, e entao me diga se algo que começa e termina assim poderia ser intencionado para apreciaçao."

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Mate os Comentadores!

A massa de interpretadores bíblicos de hoje danificaram, mais do que ajudaram, o nosso entendimento da Bíblia. Ao ler os estudiosos, tornou-se necessário fazer como alguém numa peça de teatro onde uma profusão de espectadores e holofotes impedem o que seria a nossa apreciação normal da peça em si, e em vez disso somos confrontados com pequenos incidentes. Para ver a peça, a pessoa tem que ignorá-los, se possível, ou entrar por um caminho que ainda não foi bloqueado. O comentador se tornou, de fato, o intrometido mais perigoso possível.

Se você deseja entender a Bíblia, então esteja certo de lê-la sem um comentário. Pense em dois amantes. A amante escreve uma carta ao seu amado. A pessoa amada se preocupa com o que os outros pensam? Ele não vai ler a carta sozinho? Em outras palavras, passaria pela cabeça dele a qualquer momento a idéia de ler a carta usando um comentário?! Se a carta da amante fosse numa língua que ele não entendesse - bem, então ele aprenderia a língua - mas ele certamente não leria a carta com a ajuda de comentários. Eles são inúteis. O amor pela sua amada e sua prontidão em cumprir com os seus desejos o tornaria mais do que capaz de entender a carta. É a mesma coisa com as Escrituras. Com a ajuda de Deus nós podemos entender a Bíblia direito. Todo comentário distrai, e aquele que se senta com dez comentários abertos e lê as Escrituras - bem, provavelmente ele está escrevendo o décimo primeiro. Certamente ele não está lidando com as Escrituras.

Suponha agora que essa carta da amante tem o atributo único: que todo ser humano é esse amante - e então? Nós deveriamos agora sentar e fazer uma conferência uns com os outros? Não, cada um de nós deveria ler essa carta sozinho como um indivíduo, como um indivíduo único que recebeu essa carta de Deus. Ao lê-la, nós vamos nos preocupar primeiramente conosco e com nosso relacionamento com Ele. Nós não vamos nos focalizar, na carta da amada, que talvez esta passagem, por exemplo, pode ser interpretada dessa forma, e aquela passagem de outra forma - oh, não, a coisa importante para nós será agir da forma mais breve possível.

Não é algo impressionante ser o amado? E isso não nos dá algo que nenhum comentador tem? Pense nisso. Nós não somos, cada um de nós, os melhores interpretadores das nossas próprias palavras? E então próximo ao amante, e em relação a Deus, o crente verdadeiro? Para que não esqueçamos, as Escrituras não são nada mais que sinais de trânsito: Cristo, o amante, é o Caminho. Mate os comentadores!

É claro que os comentadores não são os únicos errados. Deus quer forçar cada um de nós novamente na direção do essencial, de volta para o início infantil. Mas estar nu diante de Deus dessa forma, isso nós não queremos de jeito nenhum. Todos nós preferimos os comentários. Assim, a cada geração que passa, nós nos tornamos cada vez mais sem espírito.

O que nós realmente precisamos, então, é de uma reforma que deixe até mesmo a Bíblia de lado. Sim, isso tem tanta validade agora quanto teve o rompimento de Lutero com o Papa. A ênfase atual em retornar à Bíblia criou, infelizmente, uma religiosidade por meio de aprendizado e charlatanismo literário - uma perfeita diversão. Tragicamente esse tipo de conhecimento espirrou gradualmente para as massas, de forma que ninguém consegue mais ler a Bíblia simplesmente. Todo o nosso aprendizado bíblico tornou-se nada mais do que uma fortaleza de desculpas e escapes. Quando chega ao ponto da existência, da obediência, há sempre algo mais do qual nós temos que cuidar primeiro. Nós vivemos sob a ilusão de que nós precisamos primeiro ter a interpretação correta ou a fé na forma perfeita antes de poder começar a agir - isto é, nós nunca passamos a fazer o que a palavra diz.

A igreja tem precisado há muito tempo de um profeta que, com temor e tremor, tivesse a coragem de proibir as pessoas de ler a Bíblia. Eu sou tentado, portanto, a fazer a seguinte proposta. Vamos coletar todas as Bíblias e levá-las para uma área aberta, ou ao topo de uma montanha e então, enquanto ajoelhamos, deixemos alguém falar com Deus da seguinte forma: "Leve esse livro de volta. Nós cristãos, tais como somos, não somos capazes de nos envolver com tal coisa; ele só nos torna orgulhosos e infelizes. Nós não estamos prontos para ele." Em outras palavras, eu sugiro que nós, como aqueles habitantes cujas manadas de porcos afundaram na água e morreram, peçamos para Cristo "abandonar a vizinhança" (Mateus 8:34). Isso seria pelo menos um papo honesto - algo muito diferente da erudição nauseante e hipócrita que prevalece tanto hoje.

A questao é bem simples. A Bíblia é muito simples de entender. Mas nós cristãos somos um bando de pilantras cheios de esquemas. Nós fazemos de conta que somos incapazes de entendê-la porque nós sabemos muito bem que, no minuto em que a entendemos, somos obrigados a agir de acordo. Tome qualquer palavra do Novo Testamento e esqueça tudo exceto comprometer-se a agir de acordo. "Meu Deus", você vai dizer, "se eu fizer isso toda a minha vida estará arruinada! Como é que eu poderia continuar a vida no mundo?"

Aqui está o lugar real da erudição cristã. A erudição cristã é a invenção prodigiosa da igreja para defender-se contra a Bíblia, para garantir que nós continuamos a ser bons cristãos sem aproximar-se muito da Bíblia. Oh, erudição sem preço, o que nós faríamos sem você? Que coisa terrível é cair nas mãos do Deus vivo. Sim, é até mesmo terrível estar sozinho com o Novo Testamento.

Eu abro o Novo Testamento e leio: "Se você quer ser perfeito, então venda todos os seus bens, dê para os pobres e me siga." Bom Deus, se nós fôssemos fazer isso de verdade, todos os capitalistas, os funcionários públicos e os empresários, a sociedade inteira, de fato, seria quase como mendigos! Nós afundaríamos se não fosse pela erudição cristã! Glória a todos os que trabalham para consolidar a reputação da erudição cristã, que ajuda a refrear o Novo Testamento, esse livro confuso que - um, dois, três! - derrubaria todos nós se ele fosse solto (ou seja, se a erudição cristã não o refreasse).

Em vão a Bíblia comanda com autoridade. Em vão ela adverte e implora. Nós não a escutamos - isto é, nós escutamos a sua voz somente através da interferência da erudição cristã, através dos especialistas que foram propriamente treinados. Exatamente da mesma forma que um estrangeiro protesta pelos seus direitos em uma língua estrangeira e atreve-se apaixonadamente a dizer palavras corajosas diante de autoridades de Estado - mas veja, o intérprete que deveria traduzir não se atreve a fazer isso mas substitui a fala por outra coisa -, assim também a Bíblia soa adiante através da erudição cristã.

Nós declaramos que a erudição cristã existe especificamente para nos ajudar a entender o Novo Testamento, para que nós possamos ouvir melhor a sua voz. Nenhum louco, nenhum prisioneiro do governo, jamais foi confinado dessa forma. No que se refere a eles, ninguém nega que eles estejam trancafiados, mas as precauções tomadas em relação ao Novo Testamento são ainda maiores. Nós a trancafiamos, mas argumentamos que estamos fazendo o oposto, que nós estamos engajados com esforço em ajudá-la a ganhar claridade e controle. Mas então, é claro, nenhum louco, nenhum prisioneiro do governo, seria tão perigoso para nós como o Novo Testamento seria se fosse libertado.

É verdade que nós, protestantes, fazemos grandes esforços para que toda pessoa possa ter a Bíblia - até mesmo na sua própria língua. Ah, mas que esforço nós fazemos para convencer a todos que ela só pode ser entendida através de erudição cristã! Essa é a nossa situação atual. O que eu tentei mostrar aqui pode ser colocado facilmente: eu gostaria de alertar as pessoas e admitir que eu acho o Novo Testamento muito fácil de entender, mas até agora eu achei tremendamente difícil agir literalmente de acordo com o que ele claramente diz. Talvez eu possa tomar outra direção e inventar um novo tipo de erudição, trazendo mais um comentário, mas eu estou muito mais satisfeito com o que eu fiz - ter feito uma confissão sobre mim mesmo.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Emissários da Eternidade

A providência olha por nós conforme seguimos a jornada através da vida, oferecendo-nos dois guias: o arrependimento e o remorso. Um nos chama para frente. O outro nos chama para trás. Mesmo assim eles não se contradizem, esses dois guias, nem deixam o viajante em dúvida ou confuso. Ao contrário, estes dois guias se entendem eternamente. Pois um chama pela frente para o Bem, o outro chama por trás onde está o mal. Esse é precisamente o motivo pelo qual há dois deles, porque para tornar nossa viagem segura nós temos que olhar para frente e também para trás.

Quando uma longa procissão está para começar, há primeiro a chamada da pessoa que está na ponta da frente, mas todo mundo espera até que o último tenha respondido. Os dois guias chamam uma pessoa antes e depois, e se a pessoa presta atenção aos seus chamados ela encontra o caminho e pode saber onde está. Da mesma forma, os dois guias da eternidade nos chamam antes e depois, e quando escutamos aos seus chamados, nós sabemos onde nós estamos e para onde estamos indo. Desses dois, a chamada do remorso é talvez a melhor. Pois o viajante apressado que passa casual e rapidamente pelo caminho não experimenta esse caminho da mesma forma que o viajante com seu peso nas costas. O viajante apressado corre adiante para algo novo, para longe da experiência, mas o viajante com remorso, aquele que vem a seguir, ajunta a experiência com esforço.

Esses dois guias nos chamam antes e depois. E ao mesmo tempo não, quando o remorso chama sempre é depois. A chamada para encontrar novamente o caminho, por meio da busca a Deus em confissão de pecados, é sempre à décima primeira hora. Quando o remorso desperta a culpa, seja na juventude ou no crepúsculo da vida, ele sempre faz isso na décima primeira hora. Ele não tem muito tempo à sua disposição. Ele não é enganado pela falsa noção de uma vida longa. Pois na décima primeira hora a pessoa entende a vida de uma maneira completamente diferente do que nos dias da juventude ou nos tempos agitados da idade adulta ou nos dias finais da idade avançada. Se nós nos arrependemos em qualquer outra hora do dia nós enganamos a nós mesmos - nós nos fortalecemos com um conceito falso e apressado da insignificância da nossa culpa.

Arrependimento verdadeiro não pertence a nenhum período certo da vida, da mesma forma que diversão e jogos pertencem à infância, ou como a emoção do amor romântico pertence à juventude. Ele não surge e desaparece a esmo ou de surpresa. Não, não. Há um senso de reverência, um medo santo, uma humildade, uma sinceridade pura que assegura que o arrependimento não vem em vão ou às pressas.

Do ponto de vista do eterno, o arrependimento deve vir "de uma só vez", onde na tristeza da pessoa não há sequer tempo para proferir palavras. Mas a tristeza do arrependimento e a ansiedade de coração que inunda a alma não deve ser confundida com impaciência ou com o sentimento momentâneo de contrição. A experiência nos ensina que o momento certo de se arrepender não é sempre o momento imediatamente presente. O arrependimento pode ser muito facilmente confundido com uma agonia atormentadora ou com uma tristeza mundana; com um sentimento desesperado de tristeza em si mesmo. Mas em si mesma a tristeza nunca se torna arrependimento, não importa quanto tempo ela dure. Não importa quão nublada a mente se torne - os soluços de contrição, não importa quão violentos eles sejam, nunca se tornam lágrimas de arrependimento. Eles são como nuvens vazias que não carregam água, ou como lufadas convulsivas do vento. Ela é sensualmente poderosa no momento, excitada em expressão - e por esse mesmo motivo não é arrependimento real. Arrependimento repentino e rápido quer somente engolir a amargura da tristeza com um só gole e então continuar apressado. Ele quer fugir da culpa e de toda a sua lembrança, fortalecer-se ao imaginar que não quer ser segurado para trás na busca pelo Bem adiante. Que ilusão!

Há a estória de um homem que, por causa das suas más ações, mereceu ser punido de acordo com a lei. Depois de ter cumprido sua sentença, ele voltou à sociedade comum, reformado. Ele foi para um país estrangeiro, onde ele era desconhecido e se tornou conhecido por sua conduta irrepreensível. Tudo foi esquecido. Então, um dia, apareceu um fugitivo que o reconheceu do passado. O homem reformado estava aterrorizado. Um medo mortal o agitava toda vez que o fugitivo passava. Apesar de silencioso, seu medo gritava em voz alta, até que se tornou vocal na voz daquele fugitivo malicioso. O desespero de repente tomou conta dele, e tomou conta dele somente porque ele se esqueceu do próprio arrependimento. Seu progresso próprio nunca o levou a se render a Deus, de forma que na humildade do arrependimento ele pudesse se lembrar do que tinha sido antes.

Sim, no sentido temporal e social, o arrependimento pode ir e vir. Mas no sentido eterno, é um compromisso silencioso e diário diante de Deus. À luz da eternidade, a culpa de uma pessoa nunca mudou, mesmo que um século se passe. Pensar algo desse tipo é confundir o eterno com aquilo que não se parece nem um pouco - o esquecimento humano. Uma pessoa pode dizer a idade de uma árvore olhando para a casca do seu tronco. Uma pessoa também pode dizer a idade de uma pessoa no Bem por meio da intensidade e da interiorização do seu arrependimento. Pode-se dizer de um dançarino que o seu tempo já passou quando sua juventude se foi, mas não de um penitente. Arrependimento, se é esquecido, não é nada mais que imaturidade. Quanto mais longa e profundamente alguém o aprecia, porém, melhor ele se torna.

O arrependimento deve não só ter sua hora, mas também seu tempo de preparação. E aqui está a necessidade de confissão, o ato sagrado que precisa ser precedido por uma preparação. Da mesma forma que uma pessoa muda suas roupas para uma celebração, assim também uma pessoa se preparando para a confissão é mudada interiormente. Mas se na hora da confissão a pessoa não tiver feito a sua cabeça, ela ainda está apenas distraída. Ela vê seu pecado somente com metade de um olho. Quando ela fala, são apenas palavras - não confissão verdadeira.

Nós não podemos esquecer que Aquele que está presenta na confissão é onisciente. Deus sabe tudo, lembra-se de tudo, tudo o que nós confessamos a ele, ou o que nós escondemos da Sua confiança. Ele é Aquele "que vê em segredo", com quem nós falamos até mesmo em silêncio. Ninguém se atreve a enganá-lo, seja com palavras ou com silêncio. Quando nós confessamos a Deus, portanto, nós não somos como um servo que presta conta ao seu mestre pela administração confiada a ele porque seu mestre não era capaz de gerenciar tudo ou estar em toda parte ao mesmo tempo. E também, quando confessamos, não somos como aquele que confia num amigo a quem, mais cedo ou mais tarde, ele vai revelar coisas que seu amigo não sabia antes. Não, muito daquilo que você é capaz de manter escondido na escuridão você só consegue saber ao revelá-lo ao Todo-Sapiente. O Todo-Sapiente não fica sabendo de algo sobre aqueles que confessam, mas sim aqueles que confessam descobrem algo sobre si mesmos.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Necessitar de Deus é Perfeição

Com respeito à existência física, necessita-se de pouco, e na medida que alguém precisa de menos, mas perfeito ele é. Num relacionamento com Deus, porém, é o inverso: quanto mais alguém necessita de Deus, mais perfeito ele é. Necessitar de Deus não é nada para se envergonhar, mas é a própria perfeição. É a coisa mais triste do mundo se um ser humano atravessa a vida sem descobrir que necessita de Deus!

Pois o que é o ser humano, afinal? É apenas mais um ornamento no vasto arranjo da criação? E qual é o seu poder? Qual é o objetivo mais alto que ele pode desejar? Bem, nós não queremos roubar o objetivo mais alto de seu respectivo preço, mas não podemos esconder o fato de que o objetivo mais alto só pode ser realizado quando uma pessoa está completamente convencida de que ela mesma não é capaz de nada, absolutamente nada.

Que domínio raro - não no sentido de que somente um indivíduo nasceu para ser rei, pois todos nasceram para isso! Que sabedoria rara - não porque é oferecida somente a alguns poucos que são educados, mas porque é oferecida a todos, e acessível a todos! É verdade, se uma pessoa se volta para seu exterior, provavelmente vai parecer que ela seria capaz de fazer algo impressionante, algo que a satisfaça, algo que traga uma admiração entusiástica. Pela perspectiva humana, a humanidade pode bem ser a criação mais gloriosa, mas toda a sua glória ainda é somente no exterior e para o exterior. Os olhos não apontam sua flecha para fora toda vez que a paixão e o desejo esticam a corda do arco? A mão não busca algo do lado de fora, o seu braço não se estica, e sua ingenuidade não busca conquistar tudo? Engano!

Um ser humano é grande e está no seu auge somente quando ele reconhece diante de Deus que ele mesmo não é nada. Considere Moisés ou os chamados "atos" de Moisés. O que são até mesmo os feitos do maior herói, o que é demolir montanhas e preencher rios em comparação com fazer cair a escuridão sobre o Egito! Mas esses não foram realmente atos de Moisés. Moisés não foi capaz de nada, pois os atos foram do Senhor. Você vê a diferença? Moisés - ele não tomou decisoes ou formulou planos enquanto o conselho do senso comum o ouvia atentamente - Moisés não foi capaz de nada. Se o povo tivesse dito a ele, "Vá até o Faraó, pois sua palavra é poderosa, sua voz é triunfante, sua eloqüência é irresistível," ele teria respondido: "Ah, seus tolos! Eu não sou capaz de nada, nem mesmo de dar a minha vida por vocês, se o Senhor assim não desejar." Ou se as pessoas que morriam de sede no deserto tivessem apelado a Moisés dizendo: "Pegue o seu bastão e ordene à rocha que dê água", Moisés não teria respondido: "O que é o meu bastão senão uma simples vara!"?

Uma pessoa que conhece a si mesma percebe que ela, em si mesma e por si mesma, na verdade não é capaz de nada. O mesmo se aplica para o mundo interior. Qualquer um de nós é capaz de algo ali também? Para que uma capacidade seja na verdade uma capacidade, ela precisa ter algum tipo de oposição. Sem oposição, ou a pessoa é toda-poderosa ou a capacidade dela é algo inteiramente imaginária. No mundo do espírito, a oposição só pode vir de dentro. Desta forma, nós lutamos contra nós mesmos. Se uma pessoa não descobre esse conflito, seu entendimento é falso e conseqüentemente sua vida é imperfeita; mas se ela descobre, ela vai entender que ela mesma não é capaz de nada.

O tal auto-conhecimento do qual nós nos referimos não é realmente complicado. Mas uma pessoa não é capaz, então, de vencer a si mesma por si mesma? Como eu posso ser mais forte que eu mesmo? Quando nós falamos em vencer a si mesmo por si mesmo, nós queremos na verdade dizer de algo externo, para que a luta se torne desigual. Tome por exemplo alguém que foi tentado pelo prestígio mundano mas que conquistou a si mesmo de tal forma que ele não busca mais isso. Se ele vai guardar sua alma contra uma nova vaidade, ele terá que admitir que ele não é realmente capaz de vencer por si mesmo. Ele entende que, com vontade própria somente, ele cria, no seu mais profundo ser, tentações de glória, medo, desalento, orgulho, desafio e sensualidade maiores do que aquelas tentações que ele encontra no mundo externo. Por esse motivo ele luta consigo mesmo. A vitória não prova nada com relação a essa tentação maior. Se ele é vitorioso em enfrentar a tentação com a qual o mundo ao redor o confronta, isso não prova que ele seria vitorioso caso a tentação fosse tão terrível quanto ele é capaz de imaginar. Ele sabe, bem no fundo, que ele não é capaz de nada.

Num certo sentido, necessitar de Deus e saber que essa é a maior perfeição do ser humano torna a vida mais difícil. Porém, enquanto uma pessoa não conhece a si mesma, ela não é na verdade capaz de se tornar consciente, no sentido mais profundo, que Deus é. A pessoa que percebe que não é capaz de nada não pode iniciar a menor coisa sem a ajuda de Deus, sem se tornar consciente de que Deus é. Às vezes nós falamos sobre aprender a conhecer a Deus a partir dos eventos do passado. Nós abrimos as crônicas e lemos e lemos. Bem, isso pode ser bom, mas quanto tempo leva isso e que dubioso é o resultado freqüentemente! Mas alguém que é consciente de não ser capaz de nada tem, a cada dia e a cada momento, a preciosa oportunidade de experimentar que Deus vive. Se essa pessoa não experimenta isso com uma freqüência suficiente, ela sabe muito bem porquê. É porque o seu entendimento é falso e ela acredita que ela mesma é, apesar de tudo, capaz de algo.

Isso não significa que a vida de uma pessoa se torna fácil simplesmente porque ela aprende a conhecer a Deus dessa forma. Ao contrário, ela se torna muito mais difícil. Mas nessa dificuldade sua vida adquire um significado mais profundo. Não deveria haver nenhum significado o fato de que ela mantém seus olhos continuamente em Deus, sabendo que ela é não é capaz de nada, porém com a ajuda de Deus ela é de fato capaz? Não deveria haver nenhum significado o fato de que ela está aprendendo a morrer para o mundo, estimar cada vez menos as coisas passageiras? Finalmente, não deveria haver nenhum significado no fato de que ela entende mais vívida e confiantemente que Deus é amor, que a bondade de Deus supera todo o entendimento?

Nós não estamos dizendo que necessitar de Deus é afundar numa admiração sonhadora e numa contemplação visionária. Não. Deus nao se deixa ser tomado em vão dessa forma. Da mesma forma que conhecer a nós mesmos em nossa própria insignificância é a condição de conhecer a Deus, conhecer a Deus é a condição para a santificação de um ser humano através da assistência de Deus e de acordo com a Sua intenção. Onde quer que Deus esteja, ali Ele está sempre criando. Ele não quer que as pessoas se tornem espiritualmente delicadas e se banhem na contemplação da Sua glória. Ele quer criar um novo ser humano. Necessitar de Deus é se tornar novo. E conhecer a Deus é a coisa mais crucial. Sem esse conhecimento um ser humano não se torna nada. Sem esse conhecimento, ele mal é capaz de perceber que ele mesmo não é nada, e ainda menos capaz de perceber que necessitar de Deus é sua mais alta perfeição.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Deus Não Tem Causas

Há aqueles que falam sobre a causa de Deus, e sobre quererem servir a essa causa. Tudo isso é muito belo, mas como, exatamente, deve se interpretar isso? O senso comum diz que Deus tem uma causa no sentido humano da palavra, que Ele é um tipo de advogado, interessado em ter sua causa tornada vitoriosa e portanto ansioso por ajudar a pessoa que serviria à Sua causa, e assim por diante. Se nós seguirmos essa linha de raciocínio, Deus torna-se um caráter secundário que encontra o dilema embaraçador de precisar de seres humanos.

Não, não! Deus não tem causas, não é um advogado nesse sentido. Para Deus, tudo é infinitamente nada. A qualquer momento que Ele queira, tudo, incluindo toda a oposição à Sua causa, torna-se nada. Desejar servir à causa de Deus nunca pode significar a mesma coisa que oferecer ajuda a Ele. Não, servir à causa de Deus é enfrentar o exame. Se alguém quer servir à Sua causa, não é Deus quem perde seu equilíbrio e sublimidade; não, Ele fixa Sua atenção nesse voluntário - atentamente - e vê como ele se comporta, se ele tem integridade e resolução. Pois Deus não está interessado em causas temporais, pois Ele é infinitamente o Senhor conquistador, precisamente por essa razão Ele examina. Ele é bem capaz de cumprir a Sua vontade sozinho.

É por isso que, quanto mais alguém se envolve com Deus, mais rigoroso tudo se torna. É através do amor infinito de Deus que Ele mesmo se envolve com todos os seres humanos. O próprio fato de que Deus permite às pessoas más prosperarem nesse mundo é um sinal da Sua majestade infinita. Você não entende esse castigo apavorante, o fato de que Deus os ignora? O castigo de Deus está sobre aqueles com os quais Ele decide não ter mais nada. E ainda assim Ele cumpre o que deseja.

Normalmente nós pensamos que, quando queremos honestamente servir à causa de Deus, Deus vai nos ajudar no caminho. Bem, como? De forma material? Por meio de um resultado bem-sucedido, prosperidade, vantagens terrenas, ou coisas parecidas? Mas nesse caso tudo viraria ao avesso e não poderia mais continuar sendo a causa de Deus, mas sim uma aventura finita. Além disso, talvez eu seja um cara esperto, que não quer realmente servir a Deus, mas sim enganar a Deus de uma forma manipuladora e piedosa para minha própria vantagem. Talvez eu até mesmo pense que Deus está no aperto e fica feliz assim que algum voluntário se habilita para servir à Sua causa. Absoluta falta de sentido e blasfêmia! Não, Deus é Espírito - e nossa tarefa é ser transformado em espírito. Mas espírito é absolutamente oposto ao relacionamento com Deus por meio de benefícios temporais. Tal é a sublimidade de Deus - e ainda assim é o infinito amor de Deus!

Sim, amor infinito, tão infinito que Deus deseja envolver-se com todo ser humano, de coração fraco, tolo, carnal, que tenta torná-Lo um tio legal, um avô realmente legal do qual podemos fazer um bom uso.

Deus é amor infitivo e por esse motivo não tem causas. Ele não vai dominar uma pessoa de repente e exigir que ela se torne espírito instantaneamente. Se esse fosse o caso, todos nós pereceríamos. Não, Ele lida gentilmente com cada pessoa. Essa é uma operação longa, uma formação em amor. Sim, há momentos em que alguns se exasperam e Deus os fortalece com bênçaos materiais. Mas há uma coisa que Deus requer incondicionalmente a todo momento - integridade - para que a pessoa não reverta o relacionamento e tente pôr à prova o seu relacionamento com Deus ou com a verdade da sua causa através de fortuna, prosperidade e coisas afins. Deus quer que entendamos que as bênçãos materiais são uma concessão à nossa fraqueza e algo que Ele muito provavelmente vai retirar num momento posterior, para ajudar-nos a realizar um progresso verdadeiro, não em alguma aventura finita, mas em ser aprovado no exame.

Contra a multidão

Nós alertamos os jovens para não se dirigir aos antros de iniqüidade, mesmo que seja somente por curiosidade, porque ninguém sabe o que pode acontecer. Ainda mais terrível que isso, porém, é o perigo de acompanhar as multidões. Em verdade, não há nenhum lugar, nem mesmo o local mais nojentamente dedicado à luxúria e ao vício, onde o ser humano é mais facilmente corrompido do que na multidão.

Mesmo apesar de cada indivíduo possuir a verdade, quando ele se une a uma multidão a inverdade se apresenta imediatamente, pois a multidão é a inverdade. Ela produz impenitência e irresponsabilidade, ou enfraquece o senso de responsabilidade do indivíduo ao colocá-lo numa categoria fracionária. Por exemplo, imagine um indivíduo andando até onde Cristo está e cuspindo nele. Nenhum ser humano jamais teria a coragem ou a audácia de fazer isso. Mas como parte de uma multidão, eles teriam de certa forma a "coragem" de fazer isso - terrível inverdade!

A multidão é de fato a inverdade. Cristo foi crucificado porque ele não quis ter nada com a multidão (mesmo tendo dirigido a palavra a todos). Ele não quis formar um partido, um grupo de interesse, um movimento de massas, mas quis ser o que ele foi, a Verdade, que é relacionada ao indivíduo único. Portanto, qualquer pessoa que vai servir genuinamente à verdade é, por esse mesmo motivo, um mártir. Ganhar a multidão não é uma arte difícil; para isso, é necessária apenas a inverdade, alguma coisa sem sentido e um pouco de conhecimento das paixões humanas. Mas nenhuma testemunha da verdade se atreve a se envolver com a multidão.

O trabalho de Jesus é se envolver com todas as pessoas, se possível, mas sempre individualmente, falando com cada pessoa nas calçadas e nas ruas - de forma a separá-las. Ele evita a multidão, especialmente quando ela é tratada como autoritativa em questoes da verdade, ou quando os seus aplausos, vaias ou votações são consideradas como juízes. Ele evita a multidão com sua mentalidade de boiada, com mais intensidade do que uma jovem moça evita os bares do porto. Aqueles que falam à multidão, cobiçando a sua aprovação, aqueles que se inclinam e se arrastam pelo chão reverencialmente diante dela, devem ser considerados como sendo piores que prostitutas. Eles são instrumentos da inverdade.

Por essa razão eu poderia chorar, até mesmo desejar a morte, quando eu penso sobre como o público, com toda a sua imprensa diária e anonimidade, torna as coisas tão loucas. O fato de existir uma pessoa anônima que, por meio da imprensa, dia após dia, pode dizer o que bem entender, o que ele talvez nunca teria a coragem de dizer face-a-face como um indivíduo diante de outro indivíduo, e além disso consegue que milhares repitam essas coisas, isso tudo é nada menos do que um crime - e ninguém é responsável! Que inverdade! Tais são os caminhos da multidão.

domingo, 18 de janeiro de 2009

É comprido, mas LEIA!!!!!!!!!!

Galera, eu sei que toda migalha de Kierkegaard é uma refeiçao completa, mas esse trecho aqui... sem comentários! Leia tudo e passe para a frente. Se você tem um amigo, contribua para o crescimento dele com esse texto; se você tem um inimigo, dê um tapa na cara dele com esse texto :-)

Eu nao sou um filósofo, muito menos especialista em Kierkegaard, mas posso dizer que aqui nós temos um daqueles resumos que ele faz sobre a própria obra, sobre o próprio pensamento.

Bom apetite!

Por que é que as pessoas preferem ter a palavra dirigida a si em grupos em vez de individualmente? É porque a consciência é uma das maiores inconveniências da vida, uma faca que corta muito fundo? Nós preferimos ser "parte de um grupo", "formar um partido", pois se nós somos parte de um grupo isso significa "adeus, consciência!" Nós nao podemos ser dois ou três, um "Irmaos Silva & Cia." em torno de uma consciência. Nao, nao! A única coisa que o grupo assegura é a aboliçao da consciência.

A mesma coisa acontece com a agitaçao. Uma pessoa pode muito bem comer uma alface antes que ela forme um "coraçao", porém a delicadeza desse "coraçao" e o seu adorável núcleo sao bem diferentes das folhas. Da mesma forma, no mundo do espírito, a agitaçao, a tentativa de competir com outros, correndo para lá e para cá, torna quase impossível para um indivíduo formar um coraçao, tornar-se um indivíduo responsável e vivo. Toda e qualquer vida que está preocupada em ser como outros é uma vida desperdiçada, uma vida perdida.

Uma pomba, uma mosca ou um inseto venenoso sao objetos da preocupaçao de Deus. Nao sao vidas desperdiçadas ou perdidas. Mas massas de imitadores, uma multidao de copiadores sao vidas desperdiçadas. Deus foi misericordioso conosco, demonstrando sua graça ao ponto de estar disposto a se envolver, Ele mesmo, com cada pessoa. Se nós preferimos ser como todos os outros, isso resulta numa alta traiçao contra Deus. Nós que simplesmente seguimos os outros somos culpados, e nosso castigo é ser ignorado por Deus.

Ao formar um partido, ao derreter-se dentro de algum grupo, nós nao só evitamos nossa consciência mas também o martírio. É por isso que o medo dos outros domina esse mundo. Ninguém se atreve a ser um genuíno "eu mesmo"; todo mundo está escondido em algum tipo de "comunhao". Órgaos sensíveis sao blindados e nao estao em contato imediato com outros objetos, e da mesma forma nós, pessoas ordinárias, temos medo de chegar num contato pessoal e imediato com o eterno. Em vez disso, nós confiamos em tradiçoes e na voz dos outros. Nós nos contentamos em ser um espécime ou uma cópia, vivendo uma vida blindada contra a responsabilidade individual diante da Verdade.

A verdadeira individualidade é medida assim: por quanto tempo ou até que ponto alguém agüenta estar sozinho sem a compreensao dos outros. A pessoa que suporta estar sozinha está do outro lado do mundo em relaçao ao "socializável". Ele está a quilômetros de distância do agradador de pessoas, aquele que se dá bem com todo mundo - aquele que nao tem arestas afiadas. Deus nunca usa tais pessoas. O verdadeiro indivíduo, qualquer um que vai estar diretamente envolvido com Deus, nao vai e nao pode evitar a mordida humana. Ele será completamente incompreendido. Deus nao é amigo de reunioes humanas aconchegantes.

Sim, no mundo puramente humano a regra é a seguinte: busque a ajuda e a opiniao dos outros. Jesus diz: cuidado com os homens! A maioria das pessoas nao têm somente medo de ter uma opiniao errada, elas têm medo de manter uma opiniao solitária. No mundo físico a água apaga o fogo. Assim também é no mundo espiritual. Os "muitos", a massa de pessoas, apaga o fogo interior - cuidado com os homens!

De acordo com o Novo Testamento, ser um cristao significa ser sal. Cristianismo faz essa pergunta a cada indivíduo: você está disposto a ser sal? Você está disposto a ser sacrificado, em vez de fazer parte da multidao que busca tirar algum lucro do sacrifício de outros? Aqui, novamente, está a distinçao: ser sal ou derreter-se dentro da massa; deixar outros serem sacrificados por nós em nome da Verdade ou permitir a si mesmo ser sacrificado - entre essas duas opçoes existe uma eterna diferença qualitativa.

O profundo erro da raça humana é que nao há mais indivíduos. Nós nos tornamos divididos em dois. Quando um livro se torna velho e gasto, a cola se solta e as folhas caem. De forma similar, no nosso tempo nós estamos nos desintegrando. Nosso entendimento e nossa imaginaçao nao montam um caráter. Nós somos molengas sem espinhas que apenas paqueram com o que é mais alto. Como nós poderíamos possivelmente evitar a tontura que surge com o medo de pessoas, no meio desse redemoinho de milhoes, onde tudo é formado por multidoes e movimentos? Quanta fé é necessária para crer que a vida de uma pessoa é notada por Deus e que isso é suficiente!

Querer se esconder na multidao, ser uma pequena fraçao de um grupo em vez de ser um indivíduo, é o escape mais corrupto de todos. Sem dúvida, isso torna a vida mais fácil, mas isso acontece tornando-a sem raciocínio. Ainda assim a questao é aquela da responsabilidade de cada único indivíduo - que cada um de nós é ele mesmo, autêntico e que responde por si. É "fugir da raia" quando se faz barulho junto com um grupinho por uma assim chamada convicçao. Nós precisamos, diante de Deus, fazer a cabeça em relaçao a nossas convicçoes, e entao vivê-las independentemente dos outros. A eternidade vai separar cada pessoa como sendo individualmente responsável - tanto aquele que está sempre ocupado, que pensava estar seguro em algum grupo ou alguma corporaçao, como aquele miserável mais pobre, que pensava nao ser notado.

Cada pessoa deve prestar contas a Deus. Nenhuma terceira pessoa se atreve a se aventurar em se intrometer nessa prestaçao de contas. Deus no céu nao fala conosco como se fala com uma congregaçao; ele fala com cada um individualmente. É por isso que a evasao mais ruinosa de todas é se esconder numa manada, na tentativa de esconder-se da fala particular de Deus. Adao tentou isso quando a sua consciência culpada o fez imaginar que ele poderia se esconder entre as árvores. Da mesma forma, é mais fácil e mais conveniente, e também mais covarde, esconder-se no meio da multidao na esperança de que Deus nao vai reconhecê-lo dentre os outros. Mas na eternidade cada um vai prestar conta individualmente. A eternidade vai examinar cada pessoa por tudo o que ela escolheu e fez como um indivíduo diante de Deus.

Será horrível no dia do julgamento, quando todas as almas voltarem à vida, para colocarem-se de pé completamente sozinhas, sós e desconhecidas por todas, e ainda assim cândida e exaustivamente conhecidas por Ele que conhece todos. Ninguém pode se orgulhar em ser mais do que um indivíduo. Nem ninguém pode pensar de forma deprimente que ele nao é um indivíduo. Nao, cada um pode e deve prestar contas a Deus. Cada um tem a tarefa de se tornar um indivíduo.

Neutralidade Armada (1848)

O que eu sempre quis e ainda quero prevenir é qualquer tipo de impressao de que eu sou um cristao num nível extraordinário, um tipo marcante de cristao. Eu sempre desejei prevenir isso e ainda desejo prevenir. Aquilo que eu sempre quis alcançar e ainda quero alcançar através do meu trabalho, aquilo que eu ainda considero como sendo da mais alta importância, é acima de tudo deixar claro o que está envolvido em ser um cristao, apresentar uma imagem de um cristao em toda a sua idealidade - isto é, a verdadeira forma e estatura, trabalhada no seus mínimos detalhes, submetendo-me a mim mesmo diante de todos ao julgamento de acordo com essa imagem, qualquer que seja o julgamento, ou, pra ser mais preciso, exatamente esse julgamento: que eu nao me assemelho a essa imagem.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Lutero e suas Teses

Ó Lutero, tu tivestes 95 teses - terrível! Mesmo assim, num sentido mais profundo, quanto mais teses, menos terrível. Este caso é muito mais terrível: há somente uma tese.

O cristianismo do Novo Testamento simplesmente não existe. Aqui não há nada para se reformar; o que tem de ser feito é pôr luz sobre uma ofensa criminal contra o cristianismo, prolongada durante séculos, perpretada por milhões (de forma mais ou menos culposa), pela qual eles buscaram astutamente, sob o pretexto de aperfeiçoar o cristianismo, colocar Deus para fora dele, e foram bem-sucedidos em tornar o cristianismo exatamente o oposto do que está no Novo Testamento.

Para que o cristianismo comum aqui no nosso país, o cristianismo oficial, possa ser verdadeiramente considerado como sendo algo sequer relacionado com o cristianismo do Novo Testamento, nós precisamos tornar conhecido, da forma mais honesta, aberta e solene possível, quão remoto ele está em relaçao ao cristianismo do Novo Testamento, e quão pouco isso pode ser chamado sequer de um esforço na direção de chegar mais perto do cristianismo do Novo Testamento.

Enquanto isso não for feito, enquanto nós fizermos de conta que não há nada errado, como se tudo estivesse certo e o que nós chamamos de "cristianismo" fosse mesmo o cristianismo do Novo Testamento, ou se realizamos truques cheios de artimanha para esconder a diferença, truques para manter a aparência de que isso é o cristianismo do Novo Testamento - enquanto essa ofensa criminosa cristã continuar, não pode haver qualquer questão sobre reforma, mas apenas sobre pôr luz sobre essa ofensa criminosa cristã.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

essa eu recebi hoje por e-mail

Isso é piedade crista: renunciar tudo para servir somente a Deus, negar a si mesmo para servir somente a Deus - e entao ter que sofrer por isso; fazer o bem e entao ter que sofrer por isso. É isso o que o protótipo expressa; e é isso também que (para mencionar um simples homem) Lutero, o grande professor da nossa Igreja, continuamente aponta como pertencendo ao cristianismo verdadeiro: sofrer pela doutrina, fazer o bem e sofrer por isso, e que o sofrimento nesse mundo é parte inseparável de ser um cristao nesse mundo.

A Mediocridade

As vantages e benefícios da vida terrena estão ligadas à mediocridade. Mas a religião genuína tem uma relação inversa com o que é finito. Seu objetivo é levantar os seres humanos de forma a transcender o que é terreno. É questao de "ou uma coisa, ou outra". Ou qualidade de primeira, ou nada; ou com todo o seu coração, toda a sua mente e toda a sua força, ou nada. Ou tudo de Deus e tudo de você, ou nada!

Mais sobre Mediocridade

Considere o que Cristo pensa sobre mediocridade! Quando o apóstolo Pedro, por exemplo, com todas as boas intenções, quis impedir Cristo de ser crucificado, este respondeu: "Saia da minha frente, Satanás! Você é uma ofensa para mim." (Marcos 8:33) No mundo da mediocridade na qual nós vivemos, assume-se que somente lunáticos, fanáticos e coisas afins deveriam ser deplorados como ofensivos e inspirados por Satanás, e que o caminho do meio é o caminho correto, o único caminho isento de tais acusações. Que besteira! Cristo tem outra mentalidade: mediocridade é a pior ofensa, o tipo mais perigoso de possessão demoníaca, o mais distante possível da possibilidade de ser curado.

Sobre a Imitação de Cristo

Cristo veio ao mundo como um exemplo, constantemente afirmando: "imite-me". Em vez disso, nós humanos preferimos adorá-lo.

O Requerimento Cristão

Nós poderíamos ser, pelo menos, verdadeiros diante de Deus e admitir nossa fraqueza em vez de reduzir o requerimento.

O que é Imitar Jesus

Imitar Jesus! Com isso eu não falo sobre o tipo de imitação que consiste em jejum e flagelação, e assim por diante. Nao, imitação significa seguir o exemplo, estar disposto a ser testemunha da verdade e contra a inverdade, e fazer isso sem buscar qualquer tipo de apoio de poderes externos, nem apegar-se a qualquer poder ou formar um partido. Não é de se admirar que nós humanos somos incapazes de nos envolver com essa imitação.

A Proclamação do Cristianismo

Quando o cristianismo entrou no mundo, ele tinha como pré-requisito a necessidade, o incômodo, o sofrimento de uma consciência angustiada, a fome que grita sobre por comida - e o cristianismo era a comida. Hoje em dia nós achamos que devemos oferecer aperitivos antes de permitir às pessoas adentrarem a fé. Nós mudamos o cristianismo de uma cura radical para uma precaução supérflua, como algo usado para prevenir um resfriado, dor de dente e coisas parecidas. E estranhamente, apesar de todo inventor de remédios, pílulas, etc., "que não fazem bem nem mal", anunciarem seus medicamentos ao som de trombetas, como se eles fossem um bálsamo miraculoso, o cristianismo é proclamado em tons bem silenciosos.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O Cao Obediente

Imagine um cao de caça grande e bem treinado. Ele acompanha o seu dono em uma visita a uma família onde, como costuma acontecer com freqüência na nossa geraçao, há um grupo de jovens mal-comportados. Os olhos deles mal caem sobre o cao e eles já começam a tratá-lo da pior maneira possível. O cao, que foi bem treinado, diferente desses jovens, fixa os olhos no seu dono para ter certeza do que ele espera que seja feito, de acordo com a expressao facial dele. E o cao entende que o olhar do dono significa que ele deve aceitar o mal-tratamento, tomá-lo como se fosse de fato um carinho conferido a ele. Por causa disso, obviamente, os jovens se tornam ainda mais brutais, e por fim crêem que esse deve ser um cao prodigiosamente estúpido, que aceita tudo o que fazem com ele.

Enquanto isso, o cao está preocupado somente com uma coisa: o que o olhar do seu dono o comanda a fazer. E eis que o olhar se alterou de repente; agora significa - e o cao entende de imediato – que ele deve usar sua força. Nesse momento, com um só salto, ele dominou o maior dos garotos e o atirou ao chao - e agora ninguém pode pará-lo, exceto o olhar do dono, e no mesmo instante ele volta a se comportar como no momento anterior. Exatamente assim acontece comigo.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A Pregação Cristã

Livros sem fim foram escritos para mostrar como alguém pode reconhecer o que é o verdadeiro cristianismo. Isso pode ser feito de uma maneira muito mais simples. A natureza é acústica. Preste atenção no que o eco responde, e você vai saber imediatamente o que é o quê.

Quando alguém prega o cristianismo de tal forma que o eco responde: "Cristão glorioso, profundo, brilhante e articulado, você deve ser exaltado com os mais altos louvores!", saiba que isso significa que essa pregação é a pior mentira. Mesmo não sendo absolutamente certo que um homem algemado é de fato um criminoso (pois há muitos casos nos quais os poderosos condenaram um homem inocente), é eternamente certo que aquele que ganha honra e prestígio por pregar o cristianismo é um mentiroso, um enganador, que num ponto ou outro falsificou a verdade.

É simples: é impossível pregar cristianismo em verdade sem sofrer por isso nesse mundo.

Quando alguém prega o cristianismo de tal forma que o eco responde: "Ele é louco" ou "Que coisa sem sentido", saiba que há elementos consideráveis de verdade na sua pregação. Porém isso ainda não é o cristianismo do Novo Testamento. Ele pode ter pego o ponto, mas ele não pressionou o suficiente, especialmente por não pregar através de sua vida.

Mas quando alguém prega o cristianismo de tal forma que o eco responde: "Fora com esse homem, ele não merece viver", saiba que esse é o cristianismo do Novo Testamento.

A pena de morte é o castigo por pregar o cristianismo como ele realmente é. A vida de Cristo indica algo diferente? Odiar a si mesmo para amar a Deus; odiar tudo no qual a vida consiste, tudo a qual os seres humanos se apegam.

A pena de morte é o castigo por pregar o cristianismo em caráter. Pregar menos que isso, apelando a formas interessantes, relevantes ou controversas, é nada mais do que falsificação religiosa.

O mérito da cristandade é que o mundo se tornou tão tolerante, fez tal progresso, que a perseguição já nao acontece mais. Não há nada para perseguir. Ah, sim, o cristianismo é aperfeiçoável! E oh, como o eco responde!

O Combate

Tudo se inverteu.

Houve um tempo em que o mundo queria combater o cristianismo, e o cristianismo combateu de volta. Agora o mundo tem a posse fraudulenda do cristianismo. A tática do mundo é, com todo o seu poder e a todo custo, prevenir um combate. É como um estelionatário que possui negócios irregulares - se a questao vai a julgamento, ele perde - e portanto toda a tática dele é evitar ir à côrte.

No domínio do espírito isso acontece muito mais facilmente do que na atualidade da vida civil, pois a técnica consiste no mundo continuamente falsificar a posiçao de Cristo, o que de certa forma é a mesma coisa. Mas bom Deus, entao o mundo e Cristo entraram em acordo!

Natal

No assim chamado "cristianismo", nós transformamos o Natal num grande festival. Isso é completamente falso, e não era de forma nenhuma assim na Igreja Primitiva. Nós confundimos criancice com cristianismo - com todo o nosso sentimentalismo doentio, nossos papai-noéis e presépios. Em vez de continuarmos conscientes de estar no conflito que marca a vida de fé verdadeira, nós cristaos fizemos para nós mesmos uma casa e nos acostumamos a uma existência confortável e agradável. Nao é à toa que o Natal se tornou pouco mais do que um adorável feriado.

A Divisão

Sempre que eu penso no conceito insípido, adocicado e xaropento do Salvador, o tipo de Salvador que a cristandade adora e oferece à venda, ler as suas palavras sobre ele mesmo causa em mim um efeito estranho: "Eu vim pôr fogo na terra", ele veio para produz uma divisão que pode cortar as ligações mais sagradas, as ligações que o próprio Deus santificou, as ligações entre pai e filho, marido e mulher, pais e filhos.

O Embrulho

Quando nós recebemos um pacote, nós o desempacotamos para pegar o conteúdo. O cristianismo é um presente de Deus, mas em vez de receber o presente, nós nos concentramos em embrulhá-lo, e cada geração produziu um novo embrulho ao redor do anterior.

O Trem

Pense num trem muito comprido, cuja locomotiva, porém, escapou dele. A cristandade é como esse trem. Gerações após gerações continuaram impertubavelmente a conectar o enorme trem da nova geração com os vagões anteriores, dizendo solenemente: "Nós vamos nos apegar firmemente à fé dos patriarcas." Portanto a cristandade se tornou exatamente o oposto do que o cristianismo é.

Cristianismo é inquietação, a inquietação do eterno. Qualquer comparação aqui é redundante e entediante - pelo fato de que a inquietação do eterno é inquieta. Já a "cristandade" é tranqüilidade. Que lindo - a tranqüilidade de, literalmente, não se mover!

Dois Pesos, Duas Medidas

Sobre cada palavra que Cristo falou, apontando para o custo e o sofrimento de ser um cristao, nós dizemos o seguinte: "Isso não se aplica a nós; isso foi falado expressamente para os discípulos." Porém nós fazemos bom uso de toda palavra de consolação, de toda promessa; se Cristo falou com os apóstolos ou não, isso não faz diferença.

Buscando a opinião dos outros

É uma questão muito simples. Pegue o Novo Testamento; leia. Você pode negar, você se atreve a negar que o que você lê sobre deixar tudo para trás, sobre abandonar tudo no mundo, ser zombado e deplorado como foi o seu Senhor e Mestre - você pode negar, você se atreve a negar que isso é fácil de entender, indescritivelmente fácil, que você não precisa de um comentário bíblico ou uma única pessoa para entender isso?

Mas você diz: "Antes de eu fazer isso, porém, antes de arriscar um passo tão decisivo, primeiro eu vou consultar outras pessoas." Insolente, seu desobediente, seu atrevido! Você é um enganador; tudo o que você está procurando é um escape, uma desculpa!