quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Necessitar de Deus é Perfeição

Com respeito à existência física, necessita-se de pouco, e na medida que alguém precisa de menos, mas perfeito ele é. Num relacionamento com Deus, porém, é o inverso: quanto mais alguém necessita de Deus, mais perfeito ele é. Necessitar de Deus não é nada para se envergonhar, mas é a própria perfeição. É a coisa mais triste do mundo se um ser humano atravessa a vida sem descobrir que necessita de Deus!

Pois o que é o ser humano, afinal? É apenas mais um ornamento no vasto arranjo da criação? E qual é o seu poder? Qual é o objetivo mais alto que ele pode desejar? Bem, nós não queremos roubar o objetivo mais alto de seu respectivo preço, mas não podemos esconder o fato de que o objetivo mais alto só pode ser realizado quando uma pessoa está completamente convencida de que ela mesma não é capaz de nada, absolutamente nada.

Que domínio raro - não no sentido de que somente um indivíduo nasceu para ser rei, pois todos nasceram para isso! Que sabedoria rara - não porque é oferecida somente a alguns poucos que são educados, mas porque é oferecida a todos, e acessível a todos! É verdade, se uma pessoa se volta para seu exterior, provavelmente vai parecer que ela seria capaz de fazer algo impressionante, algo que a satisfaça, algo que traga uma admiração entusiástica. Pela perspectiva humana, a humanidade pode bem ser a criação mais gloriosa, mas toda a sua glória ainda é somente no exterior e para o exterior. Os olhos não apontam sua flecha para fora toda vez que a paixão e o desejo esticam a corda do arco? A mão não busca algo do lado de fora, o seu braço não se estica, e sua ingenuidade não busca conquistar tudo? Engano!

Um ser humano é grande e está no seu auge somente quando ele reconhece diante de Deus que ele mesmo não é nada. Considere Moisés ou os chamados "atos" de Moisés. O que são até mesmo os feitos do maior herói, o que é demolir montanhas e preencher rios em comparação com fazer cair a escuridão sobre o Egito! Mas esses não foram realmente atos de Moisés. Moisés não foi capaz de nada, pois os atos foram do Senhor. Você vê a diferença? Moisés - ele não tomou decisoes ou formulou planos enquanto o conselho do senso comum o ouvia atentamente - Moisés não foi capaz de nada. Se o povo tivesse dito a ele, "Vá até o Faraó, pois sua palavra é poderosa, sua voz é triunfante, sua eloqüência é irresistível," ele teria respondido: "Ah, seus tolos! Eu não sou capaz de nada, nem mesmo de dar a minha vida por vocês, se o Senhor assim não desejar." Ou se as pessoas que morriam de sede no deserto tivessem apelado a Moisés dizendo: "Pegue o seu bastão e ordene à rocha que dê água", Moisés não teria respondido: "O que é o meu bastão senão uma simples vara!"?

Uma pessoa que conhece a si mesma percebe que ela, em si mesma e por si mesma, na verdade não é capaz de nada. O mesmo se aplica para o mundo interior. Qualquer um de nós é capaz de algo ali também? Para que uma capacidade seja na verdade uma capacidade, ela precisa ter algum tipo de oposição. Sem oposição, ou a pessoa é toda-poderosa ou a capacidade dela é algo inteiramente imaginária. No mundo do espírito, a oposição só pode vir de dentro. Desta forma, nós lutamos contra nós mesmos. Se uma pessoa não descobre esse conflito, seu entendimento é falso e conseqüentemente sua vida é imperfeita; mas se ela descobre, ela vai entender que ela mesma não é capaz de nada.

O tal auto-conhecimento do qual nós nos referimos não é realmente complicado. Mas uma pessoa não é capaz, então, de vencer a si mesma por si mesma? Como eu posso ser mais forte que eu mesmo? Quando nós falamos em vencer a si mesmo por si mesmo, nós queremos na verdade dizer de algo externo, para que a luta se torne desigual. Tome por exemplo alguém que foi tentado pelo prestígio mundano mas que conquistou a si mesmo de tal forma que ele não busca mais isso. Se ele vai guardar sua alma contra uma nova vaidade, ele terá que admitir que ele não é realmente capaz de vencer por si mesmo. Ele entende que, com vontade própria somente, ele cria, no seu mais profundo ser, tentações de glória, medo, desalento, orgulho, desafio e sensualidade maiores do que aquelas tentações que ele encontra no mundo externo. Por esse motivo ele luta consigo mesmo. A vitória não prova nada com relação a essa tentação maior. Se ele é vitorioso em enfrentar a tentação com a qual o mundo ao redor o confronta, isso não prova que ele seria vitorioso caso a tentação fosse tão terrível quanto ele é capaz de imaginar. Ele sabe, bem no fundo, que ele não é capaz de nada.

Num certo sentido, necessitar de Deus e saber que essa é a maior perfeição do ser humano torna a vida mais difícil. Porém, enquanto uma pessoa não conhece a si mesma, ela não é na verdade capaz de se tornar consciente, no sentido mais profundo, que Deus é. A pessoa que percebe que não é capaz de nada não pode iniciar a menor coisa sem a ajuda de Deus, sem se tornar consciente de que Deus é. Às vezes nós falamos sobre aprender a conhecer a Deus a partir dos eventos do passado. Nós abrimos as crônicas e lemos e lemos. Bem, isso pode ser bom, mas quanto tempo leva isso e que dubioso é o resultado freqüentemente! Mas alguém que é consciente de não ser capaz de nada tem, a cada dia e a cada momento, a preciosa oportunidade de experimentar que Deus vive. Se essa pessoa não experimenta isso com uma freqüência suficiente, ela sabe muito bem porquê. É porque o seu entendimento é falso e ela acredita que ela mesma é, apesar de tudo, capaz de algo.

Isso não significa que a vida de uma pessoa se torna fácil simplesmente porque ela aprende a conhecer a Deus dessa forma. Ao contrário, ela se torna muito mais difícil. Mas nessa dificuldade sua vida adquire um significado mais profundo. Não deveria haver nenhum significado o fato de que ela mantém seus olhos continuamente em Deus, sabendo que ela é não é capaz de nada, porém com a ajuda de Deus ela é de fato capaz? Não deveria haver nenhum significado o fato de que ela está aprendendo a morrer para o mundo, estimar cada vez menos as coisas passageiras? Finalmente, não deveria haver nenhum significado no fato de que ela entende mais vívida e confiantemente que Deus é amor, que a bondade de Deus supera todo o entendimento?

Nós não estamos dizendo que necessitar de Deus é afundar numa admiração sonhadora e numa contemplação visionária. Não. Deus nao se deixa ser tomado em vão dessa forma. Da mesma forma que conhecer a nós mesmos em nossa própria insignificância é a condição de conhecer a Deus, conhecer a Deus é a condição para a santificação de um ser humano através da assistência de Deus e de acordo com a Sua intenção. Onde quer que Deus esteja, ali Ele está sempre criando. Ele não quer que as pessoas se tornem espiritualmente delicadas e se banhem na contemplação da Sua glória. Ele quer criar um novo ser humano. Necessitar de Deus é se tornar novo. E conhecer a Deus é a coisa mais crucial. Sem esse conhecimento um ser humano não se torna nada. Sem esse conhecimento, ele mal é capaz de perceber que ele mesmo não é nada, e ainda menos capaz de perceber que necessitar de Deus é sua mais alta perfeição.

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