segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Ame a Pessoa que Você Vê

Amar o outro a despeito das suas fraquezas e erros e imperfeições não é o perfeito amor. Não, amar é considerá-lo amável a despeito e junto com suas fraquezas e erros e imperfeições. Vamos entender um ao outro.

Suponha que havia dois artistas, e um disse: "Eu viajei muito e vi muito desse mundo, mas eu procurei em vão alguém digno de ser pintado. Eu não encontrei nenhuma face com tal perfeição de beleza que poderia fazer a minha cabeça para pintá-la. Em cada face eu vi uma ou outra falha. Portanto eu busco em vão." Isso indicaria que esse artista foi um grande artista? Em contraste, o segundo disse: "Bem, eu não pretendo ser um artista muito bom, ou sequer ser um artista; nem viajei muito. Mas ficando no pequeno círculo próximo a mim, eu não encontrei nenhuma face tão insignificante ou tão cheio de faltas que eu não pudesse mesmo assim discernir nela um lado mais bonito e descobrir algo glorioso. Portanto eu estou feliz com a arte que eu pratico, apesar de não alegar ser um artista." Isso não indicaria que precisamente esse foi o artista, aquele que por trazer um certo algo consigo encontrou, aqui e ali, aquilo que o artista muito viajado não encontrou em lugar nenhum no mundo, talvez porque ele não trazia consigo um certo algo? Não foi o segundo dentre os dois o artista real?

É uma inversão triste, geralmente comum demais, falar e falar sobre como o objeto do amor deveria ser antes que possa ser amado. A tarefa não é encontrar um objeto amável, mas considerar o objeto diante de si amável - seja dado ou escolhido - e ser capaz de continuar considerando esse objeto amável, não importa o quanto essa pessoa mude. Amar é amar a pessoa que se vê. Como o apóstolo João nos lembra: "Aquele que não ama seu irmão, a quem ele vê, não pode amar a Deus, a quem ele não vê." (1 Joao 4:20)

Considere como Cristo olhou para Pedro, uma vez que ele negou Jesus. Foi um olhar repelente, um olhar de rejeição? Não. Foi um olhar tal como o que uma mãe dá a sua criança quando a criança está em perigo devido à sua própria imprudência. Como ela não pode se aproximar e tomar a criança de perto do perigo, ela a desarma com um olhar reprovador mas salvador. Entao Pedro estava em perigo? Ah, nós não entendemos quão sério é para alguém trair seu amigo. Mas na paixão da raiva ou do ferimento o amigo ferido não consegue ver que o traidor é quem está em perigo. Ainda assim o Salvador viu claramente que era Pedro que estava em perigo, não ele, e que era Pedro que precisava se salvar. O Salvador do mundo não cometeu o erro de considerar sua causa como perdida porque Pedro não correu para salvá-lo. Em vez disso, ele viu Pedro como perdido caso ele não corresse para salvá-lo.

O amor de Cristo por Pedro era tão ilimitado que, ao amar Pedro, ele realizou o objetivo de amar a pessoa que se vê. Ele não disse: "Pedro, primeiro você precisa mudar e se tornar outro homem antes que eu possa te amar novamente." Não, ele disse simplesmente o oposto: "Pedro, você é Pedro, e eu te amo; amor, e mais nada, vai te ajudar a se tornar uma pessoa diferente." Cristo não terminou sua amizade com Pedro, e então a renovou quando Pedro se tornou um homem diferente. Não, ele preservou a amizade e dessa forma ajudou Pedro a se tornar um outro homem. Você pensa que Pedro seria ganho de volta, um dia, sem um amor tão fiel como esse?

Nós, gente tola, pensamos com freqüência que, quando uma pessoa mudou para pior, nós estamos livres de ter que amá-la. Que confusão de linguagem: estar livre de amar! Como se fosse uma questão de compulsão, um fardo do qual alguém quisesse se livrar! Se é assim que você vê a pessoa, então você realmente não a vê; você só vê indignidade, imperfeição, e admite assim que, quando você a ama, você não viu realmente a pessoa mas viu somente sua excelência e perfeições. O amor verdadeiro é uma questão de amar exatamente a pessoa que se vê. A ênfase não é em amar as perfeições, mas em amar a pessoa que se vê, não importa quais perfeições ou imperfeições aquela pessoa possa possuir.

Aquele que ama as perfeições que ele vê na pessoa não vê a pessoa, e portanto não ama verdadeiramente, pois tal pessoa cessa de amar assim que a perfeição cessa. Mas mesmo quando a mudança mais angustiante acontece, a pessoa não deixa de existir por causa disso. O amor não salta para o céu, pois ele vem do céu e junto com o céu. Ele desce e com isso realiza o objetivo de amar a mesma pessoa através de todas as suas mudanças, boas ou más, porque ele vê a mesma pessoa em todas essas mudanças. O amor humano sempre está voando em busca da perfeição do amado. O amor cristão, porém, ama a despeito das imperfeições e fraquezas. Em cada mudança o amor continua com ele, amando a pessoa que ele vê.

Ah, nós falamos de encontrar a pessoa perfeita para amá-la. O cristianismo nos ensina que a pessoa perfeita é aquela que ama sem limites a pessoa que ela vê. Nós humanos sempre olhamos para cima buscando o objeto perfeito, mas em Cristo o amor olha para baixo na terra e ama a pessoa que vê. Se então você deseja se tornar perfeito em amor, esforce-se para amar a pessoa que você vê, exatamente da forma que você a vê, com todas as suas imperfeições e fraquezas. Ame-a como você a vê, quando ela se torna extremamente mudada, quando ela não te ama mais, quando ela talvez tenha se afastado em indiferença ou para amar uma outra pessoa. Ame-a como você a vê quando ela te trai e te nega. Ame a pessoa que você vê e veja a pessoa que você ama.

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