terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A Estrada é o "Como"

Há uma metáfora geralmente aceita que compara a vida com uma estrada. Comparar a vida com uma estrada pode de fato ser frutífera de várias formas, mas nós precisamos considerar como a vida é diferente de uma estrada. Num sentido físico, a estrada é uma atualidade externa, não importando se alguém está andando nela ou não, não importando como o indivíduo viaja por ela - a estrada é a estrada. Mas no sentido espiritual, a estrada só vem a existir quando nós andamos por ela. Isto é, a estrada é a maneira como ela é andada.

Não seria razoável definir a estrada pela maneira como ela é caminhada. Se é o jovem que anda por ela com sua cabeça levantada ou o idoso decrépito que se arrasta com a cabeça baixa, se é a pessoa feliz que corre para alcançar seu alvo ou a pessoa amedrontada que se move furtiva e lentamente, se é o viajante pobre que vai a pé ou o rico na sua carruagem - a estrada, no sentido físico, é a mesma para todos. A estrada é e continua a mesma, a mesma estrada. Mas não a estrada da virtude. Nós não podemos apontar para a estrada da virtude e dizer: aquele é o caminho da virtude. Nós somente podemos mostrar a maneira como a estrada da virtude é caminhada, e se alguém se recusa a caminhar daquela forma, ele está andando por outra estrada.

A desigualdade na metáfora se mostra mais claramente quando a discussão é simultaneamente uma discussão sobre uma estrada física e uma estrada no sentido espiritual. Por exemplo, quando nós lemos no Evangelho sobre o bom samaritano, há a menção de uma estrada entre Jericó e Jerusalém. A estória conta de cinco pessoas que andaram "pela mesma estrada". Espiritualmente falando, porém, cada um andou pela sua própria estrada. Eis que a estrada não faz diferença; é o espiritual que faz a diferença e distingue a estrada. Vamos considerar com mais cuidado como é tudo isso.

O primeiro homem era um viajante pacífico que andava pela estrada de Jericó para Jerusalém por uma estrada legal. O segundo homem era um ladrão que "andava pela mesma estrada" - porém numa estrada ilegal. Entao um sacerdote veio "pela mesma estrada"; ele viu o pobre infeliz que foi assaltado pelo ladrão. Talvez ele tenha se comovido momentaneamente mas continuou em frente. Ele seguiu a estrada da indiferença. A seguir veio um levita "pela mesma estrada". Ele viu o pobre infeliz; ele também passou direto, sem qualquer comoção, continuando na sua estrada. O levita andou "pela mesma estrada" mas estava andando no seu caminho, o caminho do egoísmo e da indiferença. Enfim veio um samaritano "pelo mesmo caminho". Ele encontrou o pobre infeliz na estrada da misericórdia. Ele mostrou, através do seu exemplo, como andar na estrada da misericórdia; ele demonstrou que a estrada, espiritualmente falando, é precisamente isso: a maneira como a pessoa anda. É por isso que o Evangelho diz: "Vá e faça o mesmo." Sim, há cinco viajantes que andaram "pela mesma estrada", e mesmo assim cada um andou pelo seu próprio caminho.

A questão sobre "como uma pessoa anda pelo caminho da vida" faz toda a diferença. Em outras palavras, quando a vida é comparada a uma estrada, a metáfora simplesmente expressa o universal, aquilo que todo mundo que está vivo tem em comum por estar vivo. Nesse sentido, todos nós estamos andando pela estrada da vida e todos nós andamos pela mesma estrada. Mas quando a vida se torna uma questão acerca da verdade, a questão se torna: como devemos andar de forma a andar o caminho correto na estrada da vida? O viajante que em verdade caminha pela estrada da vida não pergunta "onde é a estrada?", mas pergunta como alguém deve andar pela estrada. Mesmo assim, como a impaciência não se importa em ser enganada, ela somente pergunta onde é a estrada, como se isso decidisse tudo da mesma forma que quando o viajante finalmente encontrou a estrada. A sabedoria mundana é muito desejosa de enganar, respondendo corretamente à pergunta "onde é a estrada?", enquanto a verdadeira tarefa da vida é omitida, que a estrada, entendida espiritualmente, é a maneira como se caminha.

A sagacidade mundana ensina que a estrada passa por Gerizim, ou por Moriá, ou que vai através de uma ou outra ciência, ou que a estrada são certas doutrinas, ou certos comportamentos. Mas tudo isso é um engano, pois a estrada é a maneira como se anda. É de fato como as Escrituras dizem: duas pessoas podem estar dormindo na mesma cama - uma é salva, a outra está perdida. Duas pessoas podem subir à mesma casa de adoração - uma vai para casa salva, a outra está perdida. Duas pessoas podem recitar o mesmo credo - uma pode ser salva, a outra está perdida. Como isso pode acontecer, exceto pelo fato de que, espiritualmente falando, é um engano saber onde a estrada está, pois a estrada é a maneira como se anda?

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