quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Seguidores, não Admiradores

É um fato bem conhecido que Cristo consistentemente usou a expressão "seguidor". Ele nunca pediu admiradores, adoradores ou aderentes. Não, ele chama discípulos. Não são aderentes de um ensino mas sim seguidores de uma vida que Cristo está procurando.

Cristo entendia que ser um "discípulo" possuía a mais íntima e profunda harmonia com o que ele disse sobre si mesmo. Cristo alega ser o caminho e a verdade e a vida (Joao 14:6). Por esse motivo, ele nunca poderia estar satisfeto com aderentes que aceitavam seu ensino - especialmente com aqueles que em suas vidas ignoravam o ensino ou deixavam as coisas tomarem seu curso normal. Sua vida inteira na terra, do início ao fim, foi destinada somente a ter seguidores e tornar os admiradores algo impossível.

Cristo veio para o mundo com o propósito de salvá-lo, não de instrui-lo. Ao mesmo tempo - como é implicado pelo seu trabalho de salvação -, ele veio a ser o padrão, deixar pegadas para a pessoa que se juntaria a ele, que se tornaria um seguidor. É por isso que Cristo nasceu e viveu e morreu em humildade. É absolutamente impossível para qualquer um se desviar do Padrão com desculpas e evasão, argumentando que Ele, no final das contas, possuía vantages terrenas e mundanas que ele não tinha. Nesse sentido, admirar a Cristo é a invenção falsa de uma era posterior, ajudada pela presunção de uma "elevação". Não, não há absolutamente nada para se admirar em Jesus, a não ser que você queira admirar pobreza, miséria e desprezo.

Então qual é a diferença entre um admirador e um seguidor? Um seguidor é, ou se esforça para ser aquilo que ele admira. Um admirador, porém, mantém-se pessoalmente à distância. Ele falha em ver que aquilo que ele admira envolve uma afirmação sobre si, e portanto ele falha em ser ou esforçar-se para ser aquilo que ele admira.

Querer admirar em vez de seguir a Cristo não é necessariamente uma invenção de pessoas más. Não, é mais a invenção daqueles que, como um contorcionista, mantêm-se separados, que mantêm-se a uma distância segura. Admiradores se relacionam com o admirado somente através de excitação da imaginação. Para eles, ele é como um ator no palco, exceto pelo fato de que, sendo tudo isso a vida real, o efeito que ele produz é de certa forma mais forte. Mas da parte deles, os admiradores fazem as mesmas exigências que sao feitas no teatro: sentar-se com segurança e com calma. Admiradores estão apenas e então somente desejosos de servir a Cristo desde que o devido cuidado seja exercitado, para que ninguém pessoalmente venha a ter contato com o perigo. Dessa forma, eles recusam a aceitar que a vida de Cristo é uma exigência. Na verdade, eles se ofendem com ele. Seu caráter radical e bizarro ofende tanto a eles que, quando eles vêem Cristo honestamente como ele é, eles não são mais capazes de sentir a tranqüilidade que tanto buscam. Eles sabem muito bem que associar-se a ele muito de perto significa estar aberto a um exame. Mesmo quando ele "não diz nada" contra eles pessoalmente, eles sabem que a vida Dele implicitamente julga a deles.

E a vida de Cristo de fato torna de fato manifesta, terrivelmente manifesta, a horrível inverdade que é admirar a verdade em vez de segui-la. Quando não há perigo, quando há um silêncio mortal, quando tudo é favorável para o nosso cristianismo, é muito fácil confundir um admirador com um seguidor. E isso pode acontecer muito silenciosamente. O admirador pode viver na ilusão de que a posição que ele toma é a verdadeira, quando na verdade tudo o que ele está fazendo é jogar seguro. Dê consideração, portanto, ao chamado do discipulado!

Tendo algum conhecimento qualquer da natureza humana, quem pode duvidar que Judas foi um admirador de Cristo? E nós sabemos que Cristo, no início do seu trabalho, teve muitos admiradores. Judas foi precisamente um admirador, e portanto mais tarde se tornou um traidor. É tão fácil julgar as estrelas quanto julgar que aquele que somente admira a verdade vai se tornar um traidor, quando o perigo surgir. O admirador perde a razão com a falsa segurança da grandeza; mas se há qualquer inconveniência ou problema, ele pula fora. Admirar a verdade, em vez de segui-la, é um fogo tão suspeito quanto o fogo do amor erótico, que com uma virada de mão pode se tornar exatamente o oposto: ódio, ciúmes e vingança.

Existe a estória de um outro admirador - foi Nicodemos (Joao 3:1 em diante). A despeito do risco para sua reputação, Nicodemos foi somente um admirador; ele nunca se tornou um seguidor. É como se ele pudesse ter dito a Cristo: "se nós conseguirmos chegar a um compromisso, você e eu, então eu aceitarei seu ensino pela eternidade. Mas aqui nesse mundo não, eu não posso admitir. Você não poderia abrir uma exceção para mim? Não seria suficiente, de vez em quando, sendo um grande risco para mim, se eu viesse até você durante a noite, mas se durante o dia (sim, confesso, eu mesmo sinto quão humilhante é isso para mim, quão vergonhoso, de fato quão grande ofensa é para você) eu diga: "eu não te conheço"? Veja a teia de inverdade em que um admirador pode se emaranhar.

Nicodemos, estou bem certo, foi com certeza bem-intencionado. Eu também estou certo de que ele estava pronto para garantir e reafirmar, com as expressões, palavras e frases mais fortes, que ele aceitava a verdade do ensino de Cristo. Porém, não é verdade que quanto mais fortemente alguém faz afirmações, enquanto sua vida continua sem mudanças, mais ele está apenas fazendo se si mesmo um tolo? Se Cristo tivesse permitido uma edição mais barata de ser um seguidor - um admirador que jura por tudo o que é mais alto e sagrado que ele está convencido - então Nicodemos poderia muito bem ter sido aceito. Mas não foi!

Agora suponha que não haja mais nenhum perigo especial, como é sem dúvida o caso em tantos dos nossos países cristãos, ligados pela confissão pública de Cristo. Suponha que não haja mais a necessidade de andar pela noite. A diferença entre seguir e admirar - entre ser, ou pelo menos esforçar-se para ser - ainda existe. Esqueça esse perigo ligado a confessar Cristo e pense no perigo real que é ligado inevitavelmente com o fato de ser um cristão. O Caminho - o requisito de Cristo para morrer para o mundo, abandonar o que é mundano, e seu requisito de auto-negação - isso tudo não contém perigo suficiente? Se o mandamento de Cristo fosse para ser obedecido, eles não constituiriam um perigo? Eles não seriam suficientes para manifestar a diferença entre um admirador e um seguidor?

A diferença entre um admirador e um seguidor ainda continua, não importa onde você esteja. O admirador nunca faz sacrifícios verdadeiros. Ele sempre joga na segurança. Apesar de nunca mostrar exaustão em apontar com palavras, frases e canções o quanto ele aprecia Cristo, ele não renuncia nada, não abandona nada, não vai reconstruir sua vida, não vai ser aquilo que ele admira, e não vai deixar sua vida expressar aquilo que ele supostamente admira. Não é assim com o seguidor. Não, não! O seguidor aspira, com todas as suas forças, com toda a sua vontade, ser aquilo que ele admira. E então, notavelmente, mesmo vivendo no meio de um "povo cristão", o mesmo perigo resulta para ele como foi o caso na época em que era perigoso confessar Cristo abertamente. E por causa da vida de seguidor, tornar-se-á evidente quem são os admiradores, pois os admiradores vão se tornar agitados perto dele. Até mesmo o fato dessas palavras estarem presentes da forma que estão aqui perturbará muitos - mas aí eles devem da mesma forma fazer parte dos admiradores.

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