terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Respondendo à Dúvida

Você já esteve em dúvida? Eu tento imaginar se você já recebeu as marcas da imitação. Eu tento imaginar se você largou tudo para seguir a Cristo. Eu tento imaginar se sua vida tem sido marcada pela perseguição.

De fato, muitos duvidaram. E houve aqueles que se sentiram na obrigação de rejeitar suas dúvidas com razões. Mas essas razões saem pela culatra e estimulam uma dúvida que se torna cada vez mais forte. Por quê? Porque demonstrar a verdade do cristianismo não está nas razões mas na imitação: isso é o que se assemelha à verdade. Mesmo assim nós cristãos preferimos deixar de lado essa prova. A necessidade de "razões" já é um tipo de dúvida - a dúvida se alimenta de razões. Nós falhamos em notar que quanto mais alguém avança com razões, mas ele alimenta a dúvida e mais forte a dúvida se torna. Oferecer razões à dúvida para matá-la é simplesmente como oferecer a um monstro faminto a comida que ele mais gosta de forma a eliminá-lo.

Não, nós não devemos oferecer razões à dúvida - pelo menos não se nossa intenção é matá-la. Nós temos que fazer como Lutero fez, ordenar à dúvida que se cale, e para esse fim nós devemos nos manter calados.

Aqueles que vivem suas vidas imitando a Cristo não duvidam de tais coisas como a ressurreição de Cristo. E por que não? Porque suas vidas são tão extenuantes, tão gastas através de sofrimentos diários que eles são incapazes de se sentar ociosamente e manter a companhia de razões e dúvida, brincando de par ou ímpar. Em segundo lugar, a necessidade por si só apaga a dúvida. Quando é por uma boa causa que você é desprezado, perseguido, ridicularizado, vive em pobreza, então você vai perceber que não duvida da ressurreição de Cristo, porque você precisa dela.

Sem uma vida de imitação, de seguir a Cristo, é impossível ganhar domínio sobre as dúvidas. Nós não podemos parar de duvidar por meio de razões. Aqueles que tentam isso não aprenderam que é um esforço inútil. Eles não entendem que a imitação é a única força que, como uma força policial, pode dispersar a multidão de dúvidas, limpar a área e compeli-las a ir para casa e travar suas línguas.

Lembre-se que o Salvador do mundo não veio para trazer uma doutrina; ele nunca deu aulas. Ele não tentou, por meio de raciocínios, prevalecer sobre alguém para que aceitasse seu ensino, nem tentou autenticá-lo através de provas demonstráveis. Seu ensino foi sua vida, sua existência. Se alguém queria ser seu seguidor, ele dizia para aquela pessoa algo do tipo: "Aventure-se num ato decisivo; entao você pode começar, então você vai saber."

O que isso significa? Significa que ninguém se torna um seguidor por ouvir a respeito do cristianismo, por ler sobre ele, por pensar a respeito dele. Significa que, enquanto Cristo estava vivendo, ninguém se tornou um crente por vê-lo de vez em quando ou por ir e fitá-lo o dia inteiro. Não, um certo posicionamento é necessário - aventurar-se num ato decisivo. A prova não precede, mas segue; ela existe na vida e com a vida que segue Cristo. Uma vez que você se aventurou no ato decisivo, você está em conflito com a vida desse mundo. Você entra em colisão com ela, e por causa disso você vai ser trazido gradualmente a tal tensão que então você será capaz de ter certeza do que Cristo ensinou. Você vai começar a entender que você não pode resistir a esse mundo sem recorrer a Cristo. O que mais alguém pode esperar por seguir à verdade?

Isso é o que Cristo também diz, e essa é a única prova possível para a verdade do que ele representa: "Se alguém quer agir de acordo com o que eu digo, ele vai experimentar se eu estou falando por minha própria conta." Aventure-se a dar todas as suas posses para o pobre e você certamente experimentará a verdade dos ensinos de Cristo. Aventure-se uma vez a tornar-se completamente vulnerável em favor da verdade, e você certamente experimentará a verdade da palavra de Cristo. Você experimentará como ela sozinha pode salvá-lo de se desesperar e de sucumbir, pois você precisará de Cristo tanto para proteger-se contra os outros como para manter-se em pé quando a consciência da sua própria imperfeição poderia derrubá-lo.

Sim, a dúvida ainda virá, mesmo para aquele que segue Cristo. Mas a única pessoa que tem o direito de dar um passo adiante, mesmo com uma dúvida, é alguém cuja vida carrega as marcas da imitação, alguém que, através de um ato decisivo, pelo menos tenta ir tão longe que tornar-se um cristão ainda pode ser uma possibilidade. Todos os outros precisam prender suas línguas; eles não têm o direito de dizer uma palavra sobre o cristianismo, e muito menos contra.

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